As conclusões constam do Segundo Inquérito Europeu às Empresas sobre Riscos Novos e Emergentes (ESENER-2), da Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho, apresentado hoje em Lisboa durante um workshop dedicado “Às condições de trabalho e a qualidade de vida no quotidiano: o contributo da Segurança e Saúde Ocupacional”.
As conclusões deste trabalho – que recolheu respostas de cerca de 50 mil locais de trabalho em 36 países, incluindo todos os 28 Estados-Membros da União Europeia – sugerem que os locais de trabalho podem estar na origem de problemas psicossociais, sendo os clientes difíceis a principal preocupação das empresas portuguesas, e de doenças músculo-esqueléticas.
“Lidar com pessoas difíceis, sejam clientes, pacientes ou alunos é o fator de risco mais recorrente em 58% das organizações na UE, especialmente no setor dos serviços”, percentagem que aumenta para 66% no caso de Portugal, refere o estudo.
Segundo o inquérito, outro fator de risco psicossocial relaciona-se com a “pressão relativamente a prazos a cumprir (40% das empresas portuguesas e 41% da EU-28)”.
Além disso, os fatores de risco psicossocial são “mais difíceis de gerir, como ficou patente na falta de informação ou de ferramentas preventivas adequadas para lhes fazer face de forma eficaz”.
No que se refere a perturbações músculo-esqueléticas, devido a posições cansativas e dolorosas, movimentos repetitivos das mãos ou braços, estas são frequentemente reportadas em todos os setores de atividade.
Há empresas que não controlam riscos psicossociais
O inquérito permitiu ainda concluir que o controlo regular de riscos é a melhor forma de prevenção, o que é praticado em larga escala, embora não na totalidade, pelos países europeus.
Os resultados indicam que 77% das empresas portuguesas fazem avaliações regulares aos riscos (76% das empresas, nos 28 Estados-Membros da UE), das quais 97% consideram ser a forma mais eficaz para vigiar a segurança e saúde dos trabalhadores.
Este tipo de avaliação pode ser feito por serviços internos ou externos e varia em função da dimensão das empresas, sendo que em alguns países, incluindo Portugal, “mesmo as empresas mais pequenas fazem avaliações de riscos junto dos seus trabalhadores”, indica o estudo.
Entre as empresas que não fazem avaliações regulares de riscos, a maioria alega que já conhece os perigos e riscos (85% empresas portuguesas e 83% europeias) ou que não existem problemas significativos (56% empresas portuguesas e 79% europeias).
O inquérito ESENER-2 permitiu também concluir que as empresas encaram a gestão de segurança e saúde como uma “obrigação”.
“Cumprir com obrigações legais” é o principal motivo apresentado por 94% das empresas portuguesas e 85% da UE, seguindo-se evitar as penalizações da inspeção do trabalho (93% das empresas portuguesas e 78% da UE) e corresponder às expetativas dos trabalhadores e respetivos representantes (90% das empresas portuguesas e 79% da UE).
Quanto às dificuldades sentidas pelas empresas em matéria de segurança e saúde no trabalho, a “complexidade das obrigações legais” surge à cabeça (43% das empresas portuguesas e 40% da UE-28), seguida da burocracia (38% das empresas portuguesas e 29% da UE-28).
“Curiosamente, nos países nórdicos (Dinamarca, Finlândia, Noruega e Suécia) a falta de tempo ou de pessoal é a que representa maiores dificuldades”, acrescenta.
Segundo os promotores do estudo, os resultados acessíveis através de uma plataforma online tornam este inquérito “um novo recurso importante para decisores políticos, investigadores, entidades públicas e privadas, médicos do trabalho e técnicos de segurança no trabalho”.
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