A presidente da Liga Portuguesa Contra a Sida (LPCS), Eugénia Saraiva, contou à agência Lusa que foi avisada, na terça-feira, por um utente da instituição que estavam a arrombar a porta da loja solidária, mas logo percebeu que eram funcionários da autarquia, acompanhados da polícia, que estavam a trocar a fechadura.

“Isto é de uma violência que eu fiquei aterrorizada, não nos comunicaram que iam fazer uma ação de despejo, antes pelo contrário, marcaram-nos uma reunião para [a passada] terça-feira, que foi desmarcada, para falar sobre a hipótese de realojamento”, adiantou Eugénia Saraiva.

Contactado pela Lusa, o vereador dos Direitos Sociais, João Afonso, disse que o espaço foi cedido à instituição em 2010 para realizar uma venda de Natal, tendo a Liga sido informada de que se tratava de uma situação temporária.

“A Câmara foi sempre informando que tinham de entregar o espaço, porque era necessário fazer obras no edifício”, disse João Afonso.

“Levámos isto até ao limite, a empreitada já está adjudicada e precisamos que o último inquilino saia para começar a obra”, sustentou, defendendo que “as instituições, qualquer que seja o seu fim, têm de cumprir o que estabelecem” com a autarquia.

Eugénia Saraiva argumentou que a Liga foi informada através de um ofício da autarquia, datado de 06 de agosto, de que o edifício ia sofrer obras.

No ofício, a que Lusa teve acesso, a autarquia informa a LPCS que o imóvel, na rua Nova do Almada, vai ser objeto de uma intervenção de reabilitação, com a duração de um ano, e que o edifício ”deve estar livre de pessoas e bens até ao fim do mês de agosto”.

A câmara refere no documento que a instituição deve contactar com “a máxima brevidade” a autarquia “a fim de avaliar a possibilidade de realojamento temporário em fogo municipal na área da mesma freguesia, durante a execução das obras”.

“Não arranjaram alternativa nenhuma”, lamentou Eugénia Saraiva, sublinhando que a LPCS tem pago sempre a renda, com “um valor simbólico”, à autarquia, tendo “inclusive um contrato comodato”.

“Este contrato data de 2010 embora já estivéssemos anteriormente na loja. Temos tudo legal, não podemos compreender este ato”, lamentou.

A responsável disse que, naquele espaço, que “vai servir de estaleiro” para as obras, estão os alimentos e os bens de higiene doados para distribuir pelos utentes, aos quais ficaram sem acesso.

“Temos tudo ali, os utentes são dali. Isto é terror”, frisou, adiantando que a loja era utilizada para atender doentes que não conseguem “subir os 90 degraus" da sede da Liga que fica numa artéria paralela (rua do Crucifixo).

O vereador João Afonso sublinhou que a CML “deu toda a atenção” e “tem toda a consideração pela Liga”, mas sublinhou que a instituição teve “cinco anos para resolver a situação”, mas nunca mostrou grande disponibilidade para resolver o problema.