O desafio futuro desta descoberta em ratinhos, publicada recentemente na revista Neuropharmacology, encontra-se na separação dos efeitos negativos e positivos da canábis.

O principal ingrediente psicoativo da marijuana, tetrahidrocanabinol (THC), atua sobre dois recetores, “CB1” e “CB2”, localizados no cérebro, que se distinguem como os “polícias maus e os polícias bons”. Os recetores CB1 estão associados à morte neuronal, distúrbios mentais e vício em diferentes drogas ou álcool. Contrariamente, os recetores CB2 anulam muitas das ações negativas dos CB1, protegendo os neurónios, promovendo o consumo de glucose (energia) pelo cérebro e diminuindo a dependência de drogas.

Attila Köfalvi, primeiro autor do artigo, explica que "através de diversas técnicas laboratoriais, concluímos que os recetores CB2, quando estimulados por análogos do THC quimicamente modificados para interagirem apenas com os recetores CB2 sem ativar o CB1, evitando os efeitos psicotrópicos e mantendo os efeitos benéficos, promovem o aumento de captação de glucose no cérebro".

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Experiências adicionais com outras técnicas mostraram que este efeito do CB2 não se limita aos neurónios mas estende-se a outras células do cérebro que ajudam ao funcionamento dos neurónios, os astrócitos. "No futuro, esta descoberta poderá abrir caminho para uma terapia paliativa na doença de Alzheimer", nota o investigador.

A equipa internacional contou com a colaboração do CAI de Cartografia Cerebral do Instituto Pluridisciplinar da Universidade Complutense de Madrid, o Instituto de Tecnologia de Madrid e o Instituto de Investigações Bioquímicas de Bahía Blanca da Universidade Nacional del Sur da Argentina.

A investigação foi financiada pelo Prémio Belard Santa Casa da Misericórdia, DARPA, FEDER, QREN - Programa Operacional Regional do Centro 2007-2013 com o apoio do Mais Centro e da União Europeia e Programa Operacional Fatores de Competitividade via Fundação para a Ciência e a Tecnologia.