
“A recolha não funciona porque nos falta a equipa de enfermagem. Não há entendimento entre o grupo de enfermagem do bloco operatório e a administração sobre as condições para que estes participem na colheita de órgãos”, declarou o coordenador hospitalar da doação de órgãos do hospital.
O médico afirmou que, por duas vezes, foram necessárias equipas médicas do exterior para recolher órgãos em Ponta Delgada, designadamente rins, porque a local não estava operacional.
O especialista explicou que a colheita já funcionou “muitas vezes, durante muitos anos, por carolice”, tendo a última recolha por parte da equipa local sido realizada em 19 de novembro de 2015.
“Os enfermeiros entendem que deveriam ser pagos de outra forma pelo trabalho que prestam, uma vez que a recolha quase sempre ocorre de noite. Havia uma escala entre eles, mas as pessoas foram-se desinteressando porque as quantias pagas eram irrisórias e as compensações em termos de horário de trabalho também não os agradavam”, sustentou.
O responsável considerou que o número de colheitas realizadas nos Açores está de acordo com a média nacional, tendo em 2014 sido realizadas três e no ano seguinte quatro, mas de vários órgãos em simultâneo, ou seja, num total de 17.
Carlos Sebastião explicou que a sinalização dos potenciais dadores é feita pela unidade de cuidados intensivos do Hospital de Ponta Delgada, que, após a morte cerebral dos pacientes, avalia se estes cumprem os requisitos necessários, ou seja, se os órgãos se encontram em bom estado.
Um dos outros requisitos, segundo Carlos Sebastião, é apurar se os potenciais contribuintes estão ou não inscritos no Registo Nacional de não Dadores (RENNDA).
A colheita é feita em Ponta Delgada, em parceria com o gabinete coordenador da colheita de órgãos de Coimbra.
O urologista explicou que a unidade em Coimbra pede uma série de dados sobre os potenciais dadores e determina se se deve avançar para a colheita, que pode ser de vários órgãos (fígado, rins, córnea, vasos sanguíneos e, eventualmente, coração).
Carlos Sebastião indicou que a equipa da unidade açoriana só recolhe rins e córneas que a unidade de Coimbra utiliza ou distribui por outros centros que têm mais necessidade.
Apesar de já terem tido lugar duas ou três colheitas nos hospitais da Terceira e Faial, o médico acrescentou que Ponta Delgada tem funcionado como um hospital central nos Açores, uma vez que há muitos doentes que se deslocam das outras ilhas para a unidade de cuidados intensivos.
A agência Lusa tentou obter uma reação junto da administração do Hospital de Ponta Delgada sobre esta questão, mas sem sucesso.
Comentários