Em entrevista à Lusa, o presidente da administração da estrutura reconhece que o funcionamento da urgência é "um problema bastante crítico", apontando-o como "a área hospitalar que cria mais instabilidade interna e que gera algum sentimento de desconforto na população".

Miguel Paiva estabeleceu assim a mudança a esse nível como a grande prioridade do seu mandato: "Ficarei muito feliz se conseguir estabilizar o serviço de Urgência e garantir que a população confia na qualidade do hospital, não só técnica, mas também de atendimento".

"Genericamente, os médicos estão a fazer bem o seu trabalho, mas as regras do protocolo de Manchester [para a triagem] deixam a desejar", admite.

Algumas dessas alterações já foram introduzidas no início de abril e são observáveis ao nível dos recursos humanos: "Desde 20 de fevereiro [data da tomada de posse da nova administração], já recrutámos 25 médicos (sete para o quadro e 18 em prestação de serviços), um técnico superior, 15 assistentes operacionais e 24 enfermeiros", revela o novo administrador.

Miguel Paiva nota, contudo, que "a falta de médicos para alocar à Urgência se deve ao facto de que o hospital sempre teve uma equipa exclusivamente dedicada a esse serviço", o que, na região Norte, só acontecerá na unidade da Feira e no hospital privado de Braga.

"Como só estas unidades fazem isto, não se desenvolveu uma carreira de médico emergencista, que é pouco atrativa por ser muito exigente, muito dura e coloca o médico em situações limite", explica. Disso resulta que o S. Sebastião "devia ter 40 a 45 médicos dos quadros para funções de Urgência, mas, dadas as várias pressões exercidas sobre esses profissionais nos últimos anos, o serviço foi sendo depauperado e atualmente só tem 20".

Miguel Paiva realça, aliás, que, como "o hospital de Braga é privado, tem condições mais atrativas, contratou pessoas e os médicos da Feira passaram para lá". O problema de base é esse: "Temos que contratar este tipo de médicos, mas o mercado não os tem".

A falta de profissionais vocacionados para a Urgência sem sendo colmatada com os chamados médicos tarefeiros, prestadores de serviços, "mas isso verifica-se sempre em número inferior ao desejado, pelo que nunca se consegue uma eficácia tao grande quanto a pretendida".

No S. Sebastião, a solução passa agora por "evoluir de uma equipa dedicada em exclusivo à Urgência para um modelo misto, mantendo os tais médicos exclusivos e complementando o seu trabalho com internos dos outros serviços do hospital, que vão passar a alocar uma parte do seu trabalho à Urgência".

Isso obrigará a uma reorganização dos "mais de 20 serviços" do hospital, para que as horas reafetadas à Urgência não impliquem quebras de produtividade significativa nas cirurgias, consultas e visitas clínicas.

"Gostaríamos de ter isto razoavelmente estabilizado até ao final do primeiro semestre, para que, no próximo pico de gripe, estejamos a funcionar com algum conforto em termos da nossa capacidade de resposta", declara Miguel Paiva.