O movimento à entrada do serviço de consultas externas começou a notar-se a partir das 08:00, com a chegada de utentes.

Pouco depois, alguns voltaram a sair, com a indicação de que não iam ter consulta devido à greve dos médicos. O mesmo aconteceu no serviço de análises clínicas, que terá informado alguns utentes que não seriam feitas as recolhas programadas, à exceção de casos urgentes, por não estarem disponíveis os médicos necessários à validação das análises.

"Vim fazer a recolha de sangue e urina, mas por causa da greve dos médicos não há recolhas, porque os médicos é que avaliam, só fazem análises com urgência", disse à agência Lusa Cremelo de Lopes, de 69 anos, à saída do hospital.

Apesar do "transtorno" de uma deslocação desde Melides, no concelho de Grândola, onde reside, Cremelo disse "compreender" o protesto dos médicos, especialmente "se estão realmente a atender as urgências", defendendo que "toda a gente precisa de ter direitos".

Teresa Manecas, de Vila Nova de Santo André, no concelho de Santiago do Cacém, chegou ao hospital ainda antes das 08:00 e perto das 09:00 estava de saída sem ter conseguido fazer a consulta de rotina do cancro da mama com o especialista que a acompanha. "Fiquei a aguardar para saber se tinha consulta, mas foi-me dito agora que o médico está em greve", disse, assegurando compreender "em parte" a motivação do protesto.

"Devia haver melhores condições de trabalho, por vezes estão ‘de banco' 48 horas, não é humano para os médicos nem para os utentes, acredito que possa haver erros por causa do cansaço", argumentou.

Enquanto aguarda para saber se o filho, que precisa tirar o gesso do braço, vai conseguir ser atendido pelo serviço de ortopedia, como previsto, Cristina Quaresma, de Santiago do Cacém, disse "entender que as pessoas têm que ser assistidas", mas também compreender "a greve", tendo em conta que "há coisas que têm que ser melhoradas".

Vinda de São Luís, no concelho de Odemira, Diamantina Dias, de 77 anos, vai percorrer de táxi os "cerca de cinquenta quilómetros" de regresso a casa sabendo que deverá voltar, quando for remarcada a consulta de ortopedia hoje cancelada devido à greve.

"Tenho que aguardar que voltem a marcar a consulta e pagar táxi duas vezes", lamentou, escusando-se a comentar o protesto, mas afirmando que sabe que os médicos "estão a lutar pelos direitos deles".

Contactada pela agência Lusa, a Comissão de Utentes do Litoral Alentejano afirmou-se "solidária com o protesto” dos médicos, uma vez que, segundo o porta-voz da comissão, Dinis Silva, "além de defenderem direitos enquanto trabalhadores, também estão a defender os direitos dos utentes e o Serviço Nacional de Saúde (SNS) no todo".

Além de apontar a falta de médicos de várias especialidades na região, Dinis Silva criticou a "sobrecarga" dos médicos de família que têm "1.900 ou 2.000" utentes nas suas listas, "muito mais do exigido pela Organização Mundial de Saúde", que aponta para "1.500 utentes por cada médico de família".

A greve desta quarta e quinta-feira, convocada pelo Sindicato Independente dos Médicos (SIM) e pela Federação Nacional dos Médicos, é um protesto pela ausência de medidas concretas do Governo num conjunto de reivindicações sindicais que têm tentado estar a ser negociadas ao longo do último ano.