28 de junho de 2013 - 15h24
O Governo britânico aprovou a utilização de um novo tratamento de fertilização ‘in vitro’ que utiliza o ADN de três pessoas, um novo método, considerado como revolucionário, que pretende impedir o desenvolvimento de doenças mitocondriais.
Segundo a comunicação social britânica, Londres espera agora elaborar um projeto-lei sobre esta matéria até ao final do ano para que o novo tratamento seja oferecido aos casais dentro de dois anos. O Reino Unido será o primeiro país do mundo a aplicar esta nova técnica.
O novo tratamento, desenvolvido por peritos da Universidade de Newcastle (nordeste de Inglaterra), aborda a transferência de mitocôndrias (estruturas celulares responsáveis pela maior parte da energia para a atividade celular, especialmente para o funcionamento de órgãos vitais) e consiste na modificação genética do embrião ao incorporar-se uma pequena amostra do ADN de um terceiro doador saudável.
As doenças mitocondriais são desordens resultantes da deficiência de uma ou mais proteínas das mitocôndrias, que podem afetar o coração, o cérebro e os músculos.
Os cientistas estimam que uma em cada 6.500 pessoas nasce com uma desordem mitocondrial.
A médica e assessora do Governo britânico, Sally Davies, manifestou-se favorável a este tratamento, afirmando que a técnica tem de arrancar “assim que possível”.
Sally Davies afirmou, citada pela comunicação social britânica, que as doenças mitocondriais têm tido um “impacto devastador” nas famílias, salientando que existem muitas pessoas que vivem com estas desordens, transmitidas pela mãe ao embrião.
Antes da aprovação governamental da nova técnica, que será ainda avaliada pelo Parlamento britânico e pela Autoridade de Fertilização Humana e Embriologia (HFEA, a sigla em inglês), foi realizado um inquérito junto da população britânica.
Segundo as conclusões deste estudo, o novo tratamento ‘in vitro’ reúne um amplo apoio junto da população.
O professor Doug Turnbull, que liderou o desenvolvimento deste novo tratamento, afirmou que a decisão do Governo britânico é uma “excelente notícia para as famílias com doenças mitocondriais".
O especialista sublinhou que o novo tratamento aumenta as perspetivas das mulheres que têm estes “genes defeituosos”.
“Têm mais possibilidades de reprodução e a oportunidade de terem filhos sem doenças mitocondriais”, reforçou.
Mas, o novo tratamento não é totalmente consensual, sendo criticado por alguns grupos que alertam para o eventual risco da comunidade científica começar a “projetar bebés”.
A porta-voz do Centro Cristão de Bioética, Helen Watt, é uma das críticas do novo tratamento, por considerar que vai criar um embrião com “partes distintas”.
“Ser pai ou mãe é receber os filhos de maneira incondicional. Não se fabrica ou controla. Os casais que não querem correr o risco de transmitir [aos bebés] doenças mitocondriais podem considerar alternativas éticas como a adoção, que são preferíveis a uma técnica perigosa de engenharia genética”, concluiu Helen Watt.
Lusa