"Greve dos médicos", lê-se num papel A4 fixado na parede da secretaria daquele que é um dos centros de saúde que mais população serve na cidade de Braga e o aviso é sério já que até às 09:40 "apenas três consultas foram dadas".

Fonte da instituição explicou que as consultas estão a ser remarcadas para "daqui a uma semana ou para daqui a um mês, dependendo do médico".

Segundo os funcionários do centro, a fila para "dar entrada" na secretaria é menor do que o habitual, menos comum é a sala de espera vazia. "As pessoas dão a entrada, avisam-nas que não vai haver consulta e vão embora" explicou à lusa um dos funcionários.

Maria Augusta Silva veio hoje ao centro de saúde com a filha, Inês, de um mês: "Vinha cá com a miúda para a consulta de rotina. Já sabia que havia greve mas tinha esperança de ter a consultinha da miúda. Não tive, azar", disse.

A mesma sorte teve António Cunha, reformado. "Isto é chato. Mas pronto, já tenho desculpa para vir dar outro passeio outro dia. Só me chateia é que as pastilhas para o coração estão a acabar e não sei como fazer. Só me marcaram consulta para daqui a 15 dias, meninas. Duas semanas", salientou.

A afluência a esta unidade de saúde, explicaram os funcionários, foi menor do que num dia normal: "Muitos já estavam alertados para a greve e nem se deram ao trabalho de cá vir, outros ligaram, alguns foram avisados, mas há sempre quem venha. Nem que seja para reclamar", disseram.

Mas se neste centro de saúde a adesão foi expressiva, na Unidade de Saúde Familiar Manuel Peixoto, também em Braga, passou-se o oposto.

Às 09:00, das 88 consultas programadas nenhuma estava prevista ser cancelada, a adesão à greve foi "zero, todos os médicos ao serviço", confirmou a Lusa no local.

Os médicos cumprem desde as 00:00 de hoje uma greve nacional de dois dias contra a falta de medidas do Governo em várias matérias, como redução dos utentes por médico de família e diminuição de horas em urgência.

Consultas e cirurgias programadas devem ser as mais afetadas nestes dois dias de greve, com os profissionais a cumprirem obrigatoriamente os serviços mínimos, que contemplam as urgências, quimioterapia e radioterapia ou transplantes.

A paralisação foi convocada pelos dois sindicatos médicos para hoje e quinta-feira e é a primeira destes profissionais de saúde que enfrenta o ministro Adalberto Campos Fernandes.

O Sindicato Independente dos Médicos (SIM) e a Federação Nacional dos Médicos (FNAM) reivindicam um conjunto de 30 pontos e queixam-se de que o Governo tem empurrado as negociações ao longo de um ano, sem concretizações, e demonstrando falta de respeito pelos profissionais.

Limitação do trabalho suplementar a 150 horas anuais, em vez das atuais 200, imposição de um limite de 12 horas de trabalho em serviço de urgência e diminuição do número de utentes por médico de família são algumas das reivindicações sindicais.

Os sindicatos também querem a reposição do pagamento de 100% das horas extra, que recebem desde 2012 com um corte de 50%. Exigem a reversão do pagamento dos 50% com retroatividade a janeiro deste ano.

O Ministério da Saúde tem dito que não negoceia sob pressão e considera-se empenhado no diálogo com os sindicatos médicos.