A doença renal tem muito a ver com a idade e numa região envelhecida como Bragança a incidência é maior, daí a importância destas contratações, como vincou à Lusa o diretor clínico da ULS do Nordeste, Domingos Fernandes, indicando que com estes dois profissionais, será possível “dar resposta relativamente global a todas as necessidades dos doentes desta área”.

O serviço, que fica centralizado em Bragança é agora dirigido por Odete Pereira, uma especialista que trocou a carreira no hospital de São João no Porto pelo Nordeste Transmontano, e que conta com o apoio do jovem nefrologista Rui Costa, que acaba também de chegar a esta região.

O serviço conta ainda com uma terceira profissional que nos últimos anos assegurou a especialidade em Bragança e que está a cumprir uma pena de suspensão de 90 dias aplicada pela Inspeção Geral das Atividades em Saúde, na sequência de um caso relacionado com um doente que viria a morrer.

O novo quadro de pessoal vai permitir, segundo o diretor clínico, “um melhor suporte ao internamento, à consulta externa, à unidade de hemodiálise e o desenvolvimento de novos projetos”.

Desenvolver um projeto para a região foi o que levou Odete Pereira a aceitar o desafio de se mudar para Bragança aos 50 anos, deixando o Porto, “onde era mais uma entre muitos”, e a aceitar uma nova experiência em que se sente a “rejuvenescer”.

A especialista elaborou um plano adequado ao desenvolvimento da Nefrologia nesta região, as valências que deve ter de imediato e as que devem ser pensadas em termos de desenvolvimento futuro num serviço que dá resposta a 70 doentes em hemodiálise, à consulta externa a toda a área da ULS do Nordeste e também aos hospitais de Mirandela e Macedo de Cavaleiros.

Um dos projetos da nova diretora da Nefrologia é avançar com hemodiálise peritoneal, ou seja a diálise feita em casa, embora ainda não esteja calendarizado.

Odete Pereira explicou que “não é fácil” convencer os doentes, porque “as pessoas têm sempre receio de se auto cuidarem” e prova disso é que “dos doentes em diálise, em Portugal, apenas 5 a 6 por cento está afazer o tratamento em casa”.

Ainda assim, esta será uma aposta a pensar nas grandes distâncias que caraterizam o distrito de Bragança e que fazem com que as pessoas demorem “muito tempo a chegarem a um centro de hemodialise”.

“Nessa perspetiva aumentaria alguma coisa a qualidade de vida”, sustentou, ressalvando que este tratamento “tem sempre de ser opção do doente e não imposição”.

O primeiro projeto urgente da nova diretora da nefrologia é a renovação da hemodiálise, nomeadamente rever todos os procedimentos para garantir a segurança e o adequado tratamento dos doentes.

Participar no desenvolvimento de um projeto global para a região “foi uma aliciante” que levou o jovem nefrologista Rui Costa a instalar-se em Bragança.

O médico reconhece que entre os pares existe o “preconceito para com o interior”, que entende ser “um preconceito instituído e muita gente não para e pensa porque é que é assim”.

“Agora não podemos queixar-nos de bons acessos, que temos, e acho que, tendo muito boa motivação, [para] quem tem vontade de ter projetos e de trabalhar o interior é uma ótima solução, porque somos muito bem recebidos, não somos apenas mais um”, afirmou.