As doenças reumáticas são doenças inflamatórias e auto-imunes que podem lesar as articulações, músculos, tendões e ossos do próprio corpo. Além de afetarem o aparelho locomotor, as doenças reumáticas podem envolver outros órgãos como o coração, rim, pulmão, sistema nervoso, aparelho digestivo, olho e pele. É fundamental, nestes casos, a colaboração de especialistas da área da Reumatologia. No Dia Mundial das Doenças Reumáticas, é importante saber mais sobre as patologias mais comuns e como se pode prevenir e tratar.

No grupo das doenças reumáticas estão incluídas todas as artropatias inflamatórias: um grupo muito vasto que inclui mais de 100 patologias classicamente caracterizadas por uma dor inflamatória, que ao contrário da dor mecânica, é sentida em repouso. Por norma, os doentes queixam-se de uma dor que surge durante a noite, que acorda o doente, que dói no calor da cama e é muito pior no início do dia. A rigidez matinal é prolongada demorando várias horas a regredir e em alguns casos, as queixas são poliarticulares, ou seja, afectam várias articulações do corpo: um doente que nos procura com uma dor num dedo da mão, mas que ao mesmo tempo marcou consulta para o especialista do ombro, da anca e da coluna deve ponderar uma consulta de reumatologia por se encontrar provavelmente numa fase aguda da sua patologia inflamatória.

Outro exemplo típico deste tipo de doenças é a artropatia gotosa (gota) que desperta o doente à noite por uma dor aguda, calor, rubor e edema no dedo grande do pé. A história clínica através da anamnese, identifica os fatores de risco major, como a alimentação, género feminino, hipertensão arterial, obesidade, consumo de álcool, hipertrigliceridemia.

Curiosamente, a forma mais comum de artrite é a Osteoartrose. A osteoartrose (OA) é a doença articular mais frequente do membro superior. É uma patologia degenerativa das articulações sinoviais que se caracteriza pela deterioração da cartilagem articular e pela formação de osso nas margens articulares. Estima-se que 70% da população acima dos 65 anos tenha alterações radiográficas das mãos compatíveis com a OA.

Esta patologia origina uma dor principalmente mecânica, ou seja, que piora com o movimento e com o esforço. Habitualmente, as queixas agravam ao final do dia quando existe uma sobrecarga articular e melhoram com repouso e descanso. A rigidez articular matinal é habitualmente curta muito embora a OA tem períodos de agudização com processos inflamatórios articulares que podem mimetizar uma doença inflamatória. Muitos doentes relatam o crescimento de esporões ósseos (bicos de papagaio) à volta da articulação.

Como em quase todas as patologias, deve haver um grande trabalho de prevenção. O exercício e o controle do peso permitem manter a mobilidade e amplitude articular, melhorar a força e tónus muscular, impedir a obesidade, aumentar a massa muscular e reduzir o “stress”. Em doentes saudáveis, as diretrizes recomendam a prática de desporto de intensidade moderada, durante pelo menos 50 minutos, três vezes por semana.

Em alguns casos, pode estar indicada a cirurgia quando a função se encontra comprometida e/ou a dor não é controlável. O tratamento mais invasivo fica quase exclusivo aos casos refratários ao tratamento conservador onde se inclui a terapêutica médica com anti-inflamatórios, corticosteróides, analgésicos, medicina física e reabilitação.

Um artigo do médico Miguel Botton, especialista em Ortopedia na Unidade de Mão e Punho do Hospital CUF Descobertas.