28 de janeiro de 2014 - 10h11
As doenças do foro respiratório foram responsáveis pela morte de 50 portugueses por dia, em 2012, um aumento de 17 por cento em relação ao ano anterior, segundo o relatório do Observatório Nacional das Doenças Respiratórias (ONDR).
Este documento de 2013, elaborado pela Fundação Portuguesa do Pulmão (FPP), indica que, em 2012, morreram por doenças respiratórias 13.908 portugueses.
A este número acrescem 4.012 óbitos por cancros da traqueia, brônquios e pulmão.
Os autores referem que estes números representam um aumento de 16,58% em relação a 2011 e de 24,07% em relação a 2005.
“Estes valores são muito superiores aos óbitos por todas as outras causas que, praticamente, não variam desde 2005”.
Em relação às pneumonias e os cancros do aparelho respiratório, estes representam 60,29% dos óbitos por doenças do foro respiratório (10.805 em 17.920).
No documento lê-se que houve um aumento da mortalidade em todas as patologias, à exceção da tuberculose, e uma relativa estabilização em relação aos cancros.
Os autores do documento ressalvam que, se se comprovar esta tendência, é necessário “procurar as razões”.
“Além do frio e das infeções virais, teremos de estar alertados para o facto de, em épocas de crise e de significativa diminuição do poder de compra, haver uma tendência, geralmente reconhecida, para o aumento das doenças respiratórias”, lê-se no relatório.

Os autores classificam estes dados de “preocupantes”, sublinhando que, em matéria de mortalidade, “assistiu-se a uma subida abrupta, praticamente em todos os grupos nosológicos das doenças respiratórias, tanto nas doenças não transmissíveis como a asma e a DPOC, como nas doenças infecciosas, nomeadamente nas pneumonias”.
Em matéria de internamentos por doenças respiratórias - asma, Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC), pneumonias, fibroses, neoplasias, bronquiectasias, patologia pleural, tuberculose e gripe - em 2012 foram internados 70.546 doentes (64.122 em 2011).
Em 2012, as três principais causas de internamento por doenças respiratórias foram as pneumonias (43.275 casos, 61,4%), a DPOC (8,967 casos, 12,7%) e as neoplasias (6.322 casos, 9%).
Por insuficiência respiratória foram internadas 51.322 pessoas em 2012 (45.395 em 2011).
Os autores consideram que “a gravidade destas doenças pode traduzir-se pela sua mortalidade intra-hospitalar, a qual é, em geral, superior à doutras doenças”.
A mortalidade intra-hospitalar foi de 0,8% na asma, 8,0% na DPOC, 16,7% na insuficiência respiratória, 21,7% nas pneumonias e 28,9% nas neoplasias, aumentando significativamente nos doentes ventilados: 5,3% na asma, 12,0% na DPOC, 31,4% na insuficiência respiratória, 35,7% nas pneumonias e 51,3% nas neoplasias.
No relatório lê-se que “todos os indicadores disponíveis sugerem que muitos dos doentes respiratórios continuam a estar sub-diagnosticados e sub-tratados”.

“Em tempos de crise certamente que esta realidade tenderá a agravar-se”, alertam os autores.
Artur Teles de Araújo, relator do documento e da direção da FPP, destacou à agência Lusa o aumento das mortes e internamentos causados por doenças respiratórias e defendeu a articulação entre serviços para dar uma melhor resposta, principalmente num cenário de crise, como o atual.
Para justificar o lema deste relatório – “Prevenir a Doença, Acompanhar e Reabilitar o Doente” - a FPP considera que há "grandes lacunas: educação para a saúde insuficiente, escassa literacia em saúde, insuficiência de apoios no combate ao tabagismo, incompleta implementação da Rede de Espirometria, escassa sensibilização para as vantagens do exercício físico e erros na área da nutrição”.
No acompanhamento do doente, a Fundação identifica também falhas: “Falta de estratégias para promoção do diagnóstico precoce, insuficiências na acessibilidade e equidade nos cuidados de saúde, dificuldades no acesso aos medicamentos (roturas de stocks, elevado valor monetário desembolsado pelos doentes)”.
“Particularmente vulneráveis estão os doentes respiratórios crónicos para os quais não existe uma verdadeira rede de cuidados respiratórios domiciliários e aos quais não estão garantidos alguns direitos fundamentais”, prossegue o documento.
SAPO Saúde com Lusa