A Doença Hepática Alcoólica (DHA) é um problema de saúde pública em Portugal, sendo a causa mais comum de doença hepática crónica no nosso país. É causada pelo consumo excessivo de álcool, isto é, mais que uma bebida alcoólica por dia nas mulheres e mais que duas bebidas por dia nos homens.

As doenças hepáticas crónicas são a quarta maior causa de morte precoce no país e, na sua generalidade, derivada do consumo de álcool. De acordo com dados do Eurostat, Portugal é considerado o país da União Europeia com o consumo de álcool diário mais elevado.

O principal fator de risco para o desenvolvimento de doença hepática alcoólica é a quantidade e o tempo durante o qual um indivíduo bebeu regularmente álcool. De ressalvar, que não há relação entre embriaguez e dano ao fígado decorrente do álcool. Isto significa que o facto de uma pessoa “estar habituada a beber” e “não ficar bêbada” de maneira alguma protege contra doença hepática. Também o padrão de “binge drinking”, consumo esporádico de mais de 4-5 bebidas numa ocasião, comportamento frequente nos jovens, parece conferir risco no desenvolvimento de DHA. Outros fatores de risco são a obesidade, o género feminino, os fatores genéticos e a presença de outras doenças do fígado.

A maioria dos doentes com DHA estão assintomáticos e essas formas só podem ser detetadas por métodos de rastreio apropriados. Deve-se suspeitar de DHA se existir história de abuso de álcool, condições médicas relacionadas ao abuso de álcool (algumas perturbações psiquiátricas), alterações no perfil hepático nas análises de sangue (ALT, AST, GGT) ou alterações do fígado em exames de imagem, nomeadamente presença de esteatose hepática (fígado gordo) na ecografia abdominal, achado presente em 80% dos consumidores.

Contudo, a evolução para quadros clínicos mais graves, nomeadamente cirrose e/ou hepatite alcoólica, que se desenvolvem em cerca de 15 a 20% dos bebedores excessivos, pode levar ao aparecimento de sintomas debilitantes como: icterícia (pele e olhos amarelos), ascite (acumulação de água no abdómen) ou encefalopatia hepática (confusão mental). Outra complicação frequente da cirrose alcoólica é o cancro do fígado (carcinoma hepatocelular), com uma incidência que varia entre 7%a 16% após 5 anos, e 29% após 10 anos de doença.

O pilar do tratamento é a abstinência, que reverte as situações iniciais e reduz os riscos de progressão da doença e de ocorrência de complicações relacionadas com a cirrose. A persistência do abuso de álcool após o diagnóstico é o principal fator para o desenvolvimento de complicações e morte. O transplante do fígado está reservado apenas quando o seu funcionamento está gravemente comprometido e as outras formas de tratamento não estão a ser eficazes.

Em suma, o diagnóstico precoce é fundamental, pelo perfil evolutivo da DHA e pela sua reversibilidade nas fases iniciais, contrastando com a gravidade das situações mais avançadas, para as quais existem poucas ou nenhumas opções terapêuticas eficazes. Desta forma, é importante realizar exames de rastreio e procurar ajuda médica se houver comportamento de risco.