Apesar da doação cruzada ser possível em Portugal há dois anos, através da troca de rins entre dois ou mais pares, nenhum cruzamento foi realizado até hoje por falta de compatibilidade entre os candidatos, segundo fonte oficial.

Helder Trindade, presidente do Instituto Português do Sangue e da Transplantação (IPST), disse à Agência Lusa que, até ao momento, não foi possível efetuar nenhum cruzamento com os pares inscritos no Programa Nacional de Doação Renal Cruzada (PNDRC).

Isto apesar do “esforço dos peritos do PNDRC e do número significativo de pares inscritos”, adiantou Helder Trindade, lembrando que “os doentes inscritos neste programa estão muitas vezes em situação de aloimunização (anticorpos contra as células do dador) que dificulta a escolha do dador e por isso a transplantação, motivo pelo qual se faz este esforço”.

O presidente do IPST sublinha a importância do transplante renal que “tem-se revelado como um tratamento eficaz para a insuficiência renal crónica terminal, em termos de sobrevivência e de qualidade de vida”.

Por esta razão, “todas as medidas que implementem a transplantação renal são vantajosas”.

No caso da doação cruzada há “vantagens que justificam o programa”, uma vez que se tenta “não só transplantar mais, mas ajudar aqueles que mais dificuldade têm em ser transplantados, mesmo tendo um dador vivo, são vantagens que justificam o programa”.

“A dádiva em vida de rim, sendo complementar em relação à dádiva post mortem, constitui uma alternativa cada vez mais utilizada, dada a qualidade dos resultados obtidos com transplante de dador vivo, mesmo nos casos de dador vivo não relacionado, e a dificuldade de satisfazer, com rins de dador cadáver, as necessidades crescentes de rins para transplante”, disse.

Segundo Helder Trindade, “as incompatibilidades de grupo sanguíneo AB0 ou de sistema HLA (antigénios de leucócitos humanos) e a existência de anticorpos contra este sistema HLA, são as principais limitações em transplantação renal à dádiva em vida verificadas em alguns pares dador-recetor”.

“A doação renal cruzada constitui assim uma alternativa que permite ultrapassar esta limitação, oferecendo aos doentes com insuficiência renal crónica a possibilidade de transplante mediante troca de rins entre dois ou mais pares dador-recetor, de maneira a que cada um dos recetores receba um rim adequado e os dadores realizem o seu desejo de doação”, adiantou Helder Trindade.

22 de agosto de 2012

@Lusa