A diabetes é melhor compreendia numa perspetiva ecológica, tendo em conta fatores da saúde física, psicológica, social e ambiental.

A diabetes tipo 2 é uma doença crónica intimamente ligada ao comportamento, estilo de vida do individuo e ao ambiente em que este se move.

Confrontamo-nos cada vez mais com um ambiente obesogénico, associado a uma disponibilidade generalizada de alimentos não saudáveis a preços acessíveis e um aumento dos estilos de vida sedentários.

Isto gera e perpetua padrões alimentares pouco saudáveis, baixos níveis de atividade física, e elevados níveis de stress.

Este cenário apresenta desafios às tentativas de modificar os comportamentos de estilo de vida para reduzir o risco de desenvolver diabetes tipo 2.

O comportamento humano está associado à literacia em saúde, ao conhecimento, às competências e à interação com os outros e com o ambiente.

Uma intervenção universal, seletiva e indicada que foque fatores psicológicos e comportamentais é fundamental para a prevenção da diabetes, promoção de saúde e proteção das pessoas com diabetes.

Mudar o comportamento é difícil.

Mudar é um processo multidimensional – implica cognições, comportamentos, emoções e motivação
Mudar é difícil – tem de ser uma prioridade
Mudar implica autoconhecimento e autorregulação
Mudar é um processo continuo com avanços e recuos
Mudar implica ganhos e percas – implica esta aceitação

Para alterar o comportamento é necessária informação, conhecimento sobre o estilo de vida e impacto do estilo de vida na saúde e doença

Conhecimento é fundamental, mas não é suficiente

Muitas vezes a pessoa sabe que determinado comportamento não é saudável, mas acredita que não consegue mudar, não consegue implementar a mudança na sua vida, não consegue manter o comportamento saudável face aos desafios internos e externos.

Além do conhecimento, as pessoas devem desenvolver e atualizar competências psicológicas, emocionais e comportamentais que lhe permitam adotar e manter comportamentos saudáveis na interação dinâmica com tentações do ambiente.
Os fatores psicológicos, como os sintomas depressivos, a ansiedade e a angústia associada à diabetes, podem ter um impacto negativo nas atividades de autogestão da doença, relacionadas (por exemplo) com a dieta, o exercício físico, a gestão de stress, o comportamento ideal na toma da medicação e a auto-monitorização da glicemia.

As técnicas psicológicas e as técnicas de mudança de comportamento como a terapia cognitivo-comportamental e o aconselhamento (por exemplo, entrevista motivacional), permitem as pessoas com diabetes tipo 2 abordar estes fatores psicológicos, melhorar a autogestão levando à redução do risco de complicações da diabetes a longo prazo.

O desenvolvimento e manutenção de comportamentos saudáveis implica a ativação de competências para transformar a ideia em ação, e adaptação face aos acontecimentos de vida, fases da doença, fases do ciclo de vida e acontecimentos externos, tais como pandemia, guerras e recessão económica.

A gestão eficaz da diabetes requer tanto bons cuidados clínicos como uma boa autogestão por parte da pessoa com diabetes para alcançar resultados de saúde melhores, mas também de saúde mental e bem-estar físico, melhor qualidade de vida e redução dos custos dos cuidados de saúde.

São identificados diversos comportamentos relacionados com a diabetes e comportamentos de “estilo de vida, tais como
– Auto-monitorização da glicemia – incluindo picar o dedo, utilizar um medidor
– Medicação – incluindo calcular a dose de insulina, injetar insulina, tomar comprimidos
– Comparência a consultas médicas – incluindo consultas de medicina geral e familiar, clínicas hospitalares, farmácias, podologia, psicologia, exames oftalmológicos, etc.
– Controlo dos pés
– Resolução de problemas
– Manter a consciência da hipoglicemia
– Alimentação saudável – incluindo verificação dos rótulos, compra de alimentos, preparação de alimentos, controlo das porções, contagem de calorias, contagem de hidratos de carbono
– Consumo de substâncias – incluindo consumo de álcool, tabagismo, consumo de drogas ilícitas, consumo de medicamentos não sujeitos a receita médica
– Atividade física – incluindo caminhadas, ginásio, desporto, tarefas domésticas, jardinagem, redução de comportamentos sedentários/utilização de ecrãs
– Manutenção de bons padrões de sono

É necessário abordar tanto os comportamentos específicos da diabetes como os comportamentos relacionados com o estilo de vida.
A autogestão é um desafio, devido às características da diabetes, que é uma doença que pode ser imprevisível, variável ao longo da vida, que se prolonga por toda a vida e que, muitas vezes, é psicologicamente exigente, requerendo confiança, motivação e autoeficácia na adaptação do comportamento para manter um controlo ótimo.

Podemos pensar na motivação como o grau de “querer”, “desejar” ou ter a intenção de realizar ações em relação a objetivos específicos.

A nossa motivação relacionada com a saúde é sustentada por fatores psicológicos, incluindo conhecimentos, crenças e atitudes em relação à saúde e aos cuidados de saúde, condições específicas, comportamentos ou os seus resultados.
Desenvolvemos estas atitudes ao longo da vida, a partir da nossa aprendizagem, valores e experiências.

A motivação pode ser auto-gerada (o que queremos fazer – intrínseca) ou gerada por outros (o que os outros querem que façamos – extrínseca), e é influenciada pelo contexto social, cultural e económico e pelo ambiente em que vivemos.

Mais motivação intrínseca está associada a uma melhor auto-gestão – por exemplo, é preditor psicológico da adesão

Sabemos que a motivação, por si só, não garante uma mudança de comportamento.

Precisamos de aprender a apoiar as pessoas para que traduzam a motivação em ação e a manter as ações (comportamentos) ao longo do tempo quando surgem problemas.

Amigos, familiares, colegas e ambientes de apoio podem ajudar. O papel do profissional de saúde e do apoio social como fontes de suporte conhecedoras, empáticas e capacitadoras são cruciais.

É importante que os profissionais de saúde tenham competências em cuidados centrados no doente e competências em matéria de mudança de comportamentos de saúde para poderem ajudar as pessoas numa autogestão mais eficaz.

Todo o processo continuo implica consciência da necessidade de mudar, planeamento, ação e manutenção/integração no estilo de vida para prevenção de recaídas.

Para motivar é importante suporte social e reflexão critica individualizada sobre os prós e os contras, sim os comportamentos de risco tem funções para a pessoa, será importante explorar comportamentos alternativos saudáveis.

Depois tem-se de passar à ação, estabelecendo objetivos comportamentais desenvolver ações para atingir os objetivos e gerindo os desafios.
Só depois é possível estabelecer e integrar os hábitos, por vezes fazer adaptações ambientais e sempre num sistema complexo de recompensas e equilíbrio.

Os contextos e o ambiente também têm o seu papel na mudança e manutenção do comportamento e adoção de estilo de vida saudável.

A par das organizações de saúde, a escola, o local de trabalho e centros de dia, os municípios são locais privilegiados para a promoção de conhecimento, competências e serem ambientes promotores e facilitadores de saúde.

Como vimos a mudança de comportamento requer literacia, motivação e também oportunidades.

As organizações podem ser ecossistemas saudáveis e promotores de saúde, promovendo e facilitando a seleção e adoção de comportamentos de saúde.
Ao nível universal podem ser ambientes que facilitem o acesso, que permeiem e sirvam de modelo na adoção de comportamentos saudáveis, que desenvolvam praticas e políticas flexíveis para pessoas com doença crónica (teletrabalho). Por outro lado, as organizações podem providenciar recursos para a saúde, através da realização de ações de sensibilização, workshops de desenvolvimento de comportamentos de saúde, e de desenvolvimento de competências socioemocionais. Será importante identificar grupos de risco, pessoas com diabetes, pessoas com excesso de peso, pessoas com estatuto socioeconómico mais baixo, populações migrantes etc. e definir ações específicas para estes grupos e dotar os ambientes e profissionais de competências adequadas para apoiarem estas pessoas no seu processo de mudança de comportamento. Importante reforçar que a saúde mental interfere muito na capacidade e motivação para a mudança. A saúde mental está intimamente ligada à saúde, à adoção de comportamentos de saúde e autogestão da doença.

Concluindo, na prevenção e gestão da diabetes tipo 2 é fundamental uma perspetiva compreensiva e de intervenção ecológica.

Mudar é difícil, mudar implica ter conhecimentos, competências, motivação e oportunidades. Para a mudança ocorrer e especialmente para a manutenção e integração da mudança é importante a pessoa ter conhecimentos e capacidades, o suporte social informal e formal é fundamental, implica competências especificas de apoio à mudança e todo o ambiente envolvente e respetivas organizações podem ser ecossistemas saudáveis.

Só uma abordagem global permite a prevenção da diabetes e a gestão da doença de forma positiva evitando risco de complicações da diabetes a longo prazo.