O Relatório da Primavera 2015, que é hoje apresentado, indica que a análise realizada sobre o acesso aos cuidados de saúde mental revelou que se continua a assistir a um processo de desinstitucionalização dos doentes “que não está a cumprir o plano pré-definido” e simultaneamente a um atraso no arranque da rede de cuidados continuados.

“A implementação nacional da Rede de Cuidados Continuados de Saúde Mental revela avanços demasiado lentos, gerando assimetrias regionais entre doentes e famílias”, acrescenta o documento.

Segundo o relatório, elaborado pelo Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS), é urgente o efetivo desenvolvimento de uma Rede de Cuidados Continuados de Saúde Mental, com o aumento dos cuidados domiciliários, que aliviem a pressão sobre os serviços de urgência e sejam mais acessíveis e mais baratas para os doentes e famílias.

O relatório destaca que o acesso aos cuidados de saúde mental “é particularmente problemático em tempos de crise, fruto das medidas restritivas acionadas”, que têm “inegáveis” consequências em termos de falta de recursos humanos e serviços, de articulações entre serviços ou de disponibilidade de medicamentos.

Crise

Os autores do estudo evidenciam também as alterações ao nível da saúde mental das pessoas induzidas pela crise e que têm reflexos na sua vida pessoal, familiar e social.

Da combinação destas duas consequências da crise resulta o que o relatório denomina como um “ciclo vicioso perfeito”.

“A crise induz limitações no acesso por restrições do lado da oferta e ao mesmo tempo induz também alterações da saúde mental das populações que exigiriam cuidados que estão mais limitados pelas razões já referidas, conduzindo assim a um agravamento da saúde mental imposta pela crise”, sublinha o documento.

Neste contexto, o observatório recomenda “a dotação da área da saúde mental e psiquiatria dos meios mínimos adequados e previstos nos diversos estudos com vista à prossecução dos seus objetivos”.

O relatório propõe um maior apoio aos grupos mais vulneráveis, nomeadamente através da redução das barreiras financeiras no acesso aos cuidados de saúde mental, e que os centros de saúde estejam atentos às necessidades dos doentes nesta matéria e aptos a diagnosticar e tratar estas doenças.

No capítulo do suicídio, os autores do relatório consideram fundamental apostar na prevenção, melhorando a capacidade de diagnóstico de situações depressivas nos centros de saúde.