O psiquiatra Horácio Firmino, que vai trabalhar na revisão dos critérios de diagnóstico das doenças mentais da Organização Mundial de Saúde, afirmou hoje que existe “um aumento crítico” da procura de apoio desta especialidade, devido à crise económica.

“Vê-se que há um aumento da procura de apoio devido à crise económica que vivemos, às dificuldades económicas e, podemos dizer mesmo, a algumas dificuldades alimentares”, disse o médico do Serviço de Psiquiatria do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC).

A par com o psiquiatra do Hospital de Guimarães Carlos Mendonça Lima, Horácio Firmino integra um conjunto de peritos internacionais que vai trabalhar na revisão dos critérios para o diagnóstico das doenças mentais, processo em que a crise e a economia serão aspetos a investigar como causas destas patologias.

Na edição de hoje, o Jornal de Notícias titula que “Crise vai ser reconhecida como causa de doença”, referindo que estes dois médicos de Portugal integram o grupo da Organização Mundial de Saúde (OMS) que vai rever a tabela de doenças psiquiátricas.

“Existe um conjunto de circunstâncias que são precipitantes da doença mental, os aspetos psicossociais e, dentro destes, existem, nomeadamente, a desnutrição, o desemprego, a falta de dinheiro, toda a situação de 'stress' vivencial que tem a ver com a crise económica que vivemos”, salientou o psiquiatra do CHUC que, com o colega de Guimarães, se vai debruçar sobre a saúde mental da terceira idade.

Segundo o coordenador da Gerontopsiquiatria daquele serviço do CHUC, estes aspetos, geradores de ansiedade e depressão, “muitas vezes, são negligenciados em termos de diagnóstico”.

Com a crise e as dificuldades “surge a doença e a necessidade de intervir, não só sob o ponto de vista clássico, médico, mas também com um conjunto de outras intervenções, quer com o psicólogo, quer com o serviço social”, frisou Horácio Firmino, também presidente da Associação Europeia de Psiquiatria Geriátrica.

Ao referir não poder afirmar, sem um estudo, se existe um aumento do consumo de anti-depressivos devido à crise, o chefe de serviço do CHUC disse, contudo, que, “muitas vezes, os doentes não tomam a medicação prescrita, porque não têm dinheiro para a comprar”.

Com esta revisão da tabela de diagnóstico das doenças mentais, que se sucede a uma feita há 20 anos, pretende-se criar “critérios muito mais operacionais”, salientou Horácio Firmino, que faz parte da comissão executiva da Associação Internacional de Psicogeriatria.

“Vai ser feita uma investigação de tudo o que foi produzido nesta área, de maneira a melhorarmos os critérios que utilizamos”, disse ainda o médico psiquiatra, ao falar hoje aos jornalistas nos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC-CHUC).

08 de agosto de 2012

Lusa