A Linha de Apoio em cuidados paliativos (800 209 531), que apenas estará disponível em outubro, entre as 20:00 e as 22:00, faz parte de uma campanha que assinala os 20 anos da APCP.

“É uma experiência piloto, vamos desenvolvê-la e estudar o seu impacto”, fazendo um estudo para perceber que “tipo de dúvidas as pessoas têm, que tipo de questões colocam e para percebermos se se justifica avançar com esta linha”, disse à agência Lusa o presidente da APCP, Manuel Luís Capelas.

Durante um mês, profissionais de saúde vão disponibilizar duas horas do seu dia para esclarecer a população e responder a questões como “o que são os cuidados paliativos”, “para que servem”, “quando estão indicados”, “onde existem”, “é possível ter acesso a estes cuidados em casa” e “o recurso a estes cuidados significa que a pessoa está a morrer”.

O objetivo, segundo Manuel Luís Capelas, “é capacitar o cidadão com informação para que possa ser um cidadão ativo na defesa dos seus direitos”.

“Até podemos ter uma boa resposta de cuidados paliativos em qualidade e em quantidade, mas se a população continuar a ter presente os seus mitos, não saber como aceder a estes serviços" ou como pressionar a equipa que o acompanha a pensar nesta possibilidade para a sua situação clínica, "não vale a pena ter essa resposta”, sublinhou.

Traçando um retrato dos cuidados paliativos em Portugal, Manuel Luís Capelas disse que a situação tem evoluído, mas estrategicamente a resposta ainda “é insuficiente”, havendo “locais do país que estão mais bem servidos do que outros”.

Segundo a associação, estes cuidados centralizam-se nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto.

“Do ponto de vista estratégico continua a insistir-se muito na disponibilização de camas sem apostar numa resposta de cuidados paliativos domiciliários”, quando estudos demonstram que mais de 60% da população portuguesa gostaria de ser cuidada e de morrer em casa.

Dados divulgados pela APCP acrescentam que 64% das pessoas com doença prolongada e incurável morrem nas camas hospitalares sem acesso a cuidados domiciliários.

Em Portugal existe uma equipa de cuidados paliativos domiciliários por 520 mil habitantes, quando as recomendações internacionais apontam para uma por cada 100 mil habitantes.

No ano passado, as vagas disponíveis em cuidados paliativos nas unidades da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (195) representavam menos de 30% das necessidades atuais.

Este ano espera-se que cheguem às 345, o que representará cerca de 58% das necessidades nesta tipologia (não agudos), refere a associação.

Manuel Luís Capelas sublinhou que, além das respostas serem “diminutas, os tempos de espera são longos e a referenciação “muito tardia”, cerca de 40 dias, o que leva a que metade dos doentes referenciados morra sem acesso a estes cuidados.

Em Portugal, estima-se que, anualmente, 60 mil doentes necessitem destes cuidados, mas apenas cerca de 2.500 recebem este tipo de apoio por ano.