De forma a calcularem os hábitos de consumo de substâncias ilícitas na Europa, investigadores procederam à recolha e análise de amostras diárias de águas residuais recolhidas durante uma semana nas bacias hidrográficas de cada uma das 50 cidades europeias incluídas no estudo que teve lugar durante o mês de março e reuniu 18 países.

Tal como explica o relatório do projeto SCORE, a análise aos resíduos de esgotos é capaz de fornecer dados objetivos sobre o uso de drogas uma vez que todos os químicos que entram no corpo humano saem praticamente inalterados ou como uma mistura de metabólicos. Após processar a droga ingerida, o corpo divide o seu composto químico que, após ser expelido na urina, acaba por ir parar às águas residuais. Com isto em mente, os investigadores conseguem assim determinar a quantidade, a zona geográfica e o tipo de substância mais consumida em cada cidade europeia.

Após analisarem as águas residuais de 25 milhões de pessoas, os investigadores encontraram vestígios de quatro drogas ilícitas: anfetamina, cocaína, ecstasy e metanfetamina. De uma forma geral, a cocaína e o ecstasy lideram o topo das drogas mais consumidas ao sábado e ao domingo enquanto a metanfetamina registou níveis mais altos durante a semana.

Portugal foi um desses casos onde os compostos da cocaína e do ecstasy foram detetados nas águas residuais de Lisboa, especialmente ao fim de semana. Aqui o consumo diário ronda as 274,5 mg e 34,2 mg, respetivamente.

O estudo, que é realizado desde 2012, revela que Bélgica, Holanda, Espanha e Reino Unido são os países onde se registou o maior consumo de cocaína, que por outro lado não é tão visível em cidades da Europa do Leste.

Comparativamente com os anos anteriores, registou-se um aumento no consumo de ecstasy em algumas cidades europeias e uma maior dispersão no que toca à metanfetamina, que geralmente estava mais concentrada na Eslováquia e República Checa e foi agora detetada no Sul da Europa.

De todas as drogas em análise, a anfetamina é a substancia ilícita que apresenta mais variações uma vez que foi detetada em níveis muito baixos no Sul da Europa mas com maior intensidade no Norte da Europa.

No relatório, onde são apresentadas as conclusões do estudo, o diretor da European Monitoring Centre for Drugs and Drug Addiction (EMCDDA) salienta a importância deste projeto iniciado em 2012. “Esta análise residual demonstrou o seu potencial enquanto complemento funcional para estabelecer ferramentas capazes de monitorizar substâncias ilícitas. A sua capacidade de fornecer dados atuais relativamente ao uso de drogas é particularmente relevante face a um panorama que está em constante transformação. Ao detetar mudanças no consumo de drogas, quer a nível geográfico e ao longo do tempo, pode ajudar os serviços de saúde e tratamento a responder melhor às tendências emergentes e às necessidades de tratamento”, conclui Alexis Goosdeel.