Em declarações à agência Lusa, o especialista salientou que a cirurgia estética sofreu um desenvolvimento muito grande nos últimos tempos, que levou "uma série de oportunistas e clubes de saúde e de massagens, SPA e cabeleireiros" a praticarem atos para os quais não têm competência.
"Cada vez mais assistimos a processos em tribunal e na Ordem dos Médicos por problemas causados aos doentes que se submetem a intervenções por pessoas não habilitadas", disse Celso Cruzeiro, que é também diretor do serviço de Cirurgia Plástica, Reconstrutiva e de Queimados do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra.
Segundo o cirurgião, este é um tema que vai merecer especial atenção no III Congresso Ibérico de Cirurgia Plástica, que vai decorrer entre os dias 02 e 04 de junho, no Estoril, de forma a colocar na agenda "um dos problemas de saúde mais graves e menos conhecidos do nosso país".
"É um problema extremamente grave, que se tem vindo a agravar, prejudicando verdadeiramente a saúde dos doentes", disse Celso Cruzeiro, salientando que a maioria das cirurgias praticadas respeita a atos aparentemente simples, como preenchimento faciais, lipoaspirações, mamoplastias e aplicação de injetáveis como 'botox', mas que "exigem conhecimentos básicos para serem aplicados".
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O diretor do serviço de Cirurgia Plástica, Reconstrutiva e de Queimados do CHUC sublinha ainda que as intervenções são feitas fora de blocos operatórios e sem os meios técnicos e humanos adequados, potenciando ainda mais os riscos dos pacientes.
Falta de fiscalização
Para Celso Cruzeiro, que se baseou num inquérito da Sociedade Portuguesa de Cirurgia Plástica, é o baixo preço que condiciona as pessoas que se submetem a este tipo de cirurgias, "que só cirurgiões plásticos estão preparados para fazer". O especialista critica a má fiscalização e a não aplicação da legislação, criticando que entre os regulamentos e a sua aplicação vai "uma distância enorme".
O cirurgião Nuno Fradinho, também da direção Sociedade Portuguesa de Cirurgia Plástica, Reconstrutiva e Estética, considera que os atos praticados por médicos sem esta especialidade têm produzido, em Portugal, "problemas alarmantes".
"Metade das complicações mais graves que chegam aos hospitais - desde deformidades permanentes até problemas como perfurações viscerais ou tromboembolismos - são praticados por médicos que não estavam habilitados à prática de cirurgia plástica", disse à agência Lusa.
Considerando que se trata de um "problema de saúde pública", Nuno Fradinho alerta que as pessoas que recorrem àquelas cirurgias têm "muita dificuldade em se queixar e a admitir que a intervenção correu mal", o que dificulta o apuramento de responsabilidades.
De acordo com o cirurgião, médico no Centro Hospitalar de Lisboa Central, as pessoas que se submetem a cirurgias plásticas ou estéticas deviam, antecipadamente, identificar o interveniente e averiguar a sua credenciação.
"Ao quererem fazer poupanças nos materiais, as pessoas colocam, muitas vezes, a sua saúde em grave perigo pelo recurso a substâncias e a próteses de baixa qualidade, além de que do ponto de vista estético acabam por ficar muito pior do que estavam", adverte Nuno Fradinho.
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