O coordenador do Centro de Investigação (CI), João Morais, revela que o trabalho desenvolvido permitirá, por exemplo, a produção personalizada de ortóteses (materiais médicos de apoio, como colares cervicais), que poderão ser impressos no hospital diretamente pelos profissionais de saúde para um doente específico, e na impressão de e em órgãos, para restaurar tecidos.

"Ter a possibilidade de produzir tecidos em laboratório é fascinante. Se for comprar uma prótese da anca só tenho de dizer o tamanho, mas ela pode não ser a que melhor serve. A ideia é sermos capazes de produzir materiais, através da impressão em 3D em polímeros. Pela primeira vez, o hospital associou o seu nome a um consórcio cuja investigação extravasa os nossos muros e, nesta fase, não envolve diretamente doentes", explicou João Morais.

A produção de tecidos "tem a ver com culturas de células", acrescentou. "Por exemplo, posso ir buscar uma célula e vou tentar diferenciá-la em células do pâncreas, do fígado ou do coração. Porquê? Para tentar fazer reparação de tecidos o mais biologicamente possível, evitando a rejeição do organismo", sublinhou. A produção de células pode servir para uma queimadura num braço ou recuperar um osso partido.

Existente desde 2014, o CI "não nasce para investigar, mas cria condições e incentiva para fazer investigação", disse João Morais, salientando que esta é uma área que "por inerência devia fazer parte de todas as instituições de saúde". "Não se chama centro de investigação clínico, porque pode ser um banco de ensaio para outras áreas da saúde como economia, gestão, base de dados, informática e comunicações", acrescentou o coordenador, informando que ambiciona "poder abrir a porta a bolseiros".

Para João Morais, a investigação "dá um fortíssimo contributo à melhoria da qualidade das instituições", porque "envolve procedimentos de grande rigor", o que "transforma um hospital que investiga, num hospital melhor e mais rigoroso".

Ensaios clínicos de fase 3 e 4

João Morais adiantou que o CI tem participado em ensaios clínicos de fase 3 e 4, ou seja, são testados fármacos que "já passaram pelo crivo da sua segurança". Segundo explicou, estas fases permitem "ver a verdadeira aplicabilidade prática daquele fármaco" e a sua eficácia.

Os ensaios realizam-se quer com "fármacos novos" ou "em medicamentos que já estão no mercado e estão a ser investigadas novas indicações".

Na área da cardiologia, serviço que também dirige no CHL, João Morais afirmou que "está a ser estudada a prevalência da rotura da aorta na região de Leiria", no sentido de perceber "até que ponto é que pode haver características particulares na região de Leiria" para se verificar uma prevalência.

Medicamentos para síndromes coronários agudos, agentes para tratamento da trombose e anticoagulantes orais na fibrilhação auricular são três investigações clínicas com o selo de Leiria e que se encontram na ‘Web of Science Thomson Reuters', onde já figuram 147 ‘papers' do CHL, colocando este hospital "à frente de outros da sua dimensão" e mesmo de hospitais portugueses que "têm vocação académica", por estarem ligados a universidades.

Segundo o relatório do Centro de Investigação, em 2015 foram contabilizados um total de 52 estudos, ensaios e projetos de investigação, sendo que o maior número de propostas foi relativo aos estudos de investigação promovidos por funcionários e/ou internos do CHL seguidos dos ensaios clínicos da indústria farmacêutica.

Este ano, "a cardiologia do CHL tem um trabalho aceite no congresso europeu de cardiologia", sobre o enfarte do miocárdio. Este congresso tem uma "taxa de aceitação de menos 10%, ou seja, recebe 10 mil propostas e aceita mil e dessas só muito poucas são para apresentar oralmente", realçou João Morais.

O coordenador garante que qualquer estudo que envolva informação de doentes tem a autorização da Comissão Nacional de Proteção de Dados e da Comissão de Ética do CHL e os utentes são informados.

João Morais destacou ainda que a investigação interna está a "crescer exponencialmente" e que procura "olhar para os doentes e dali tirar ilações". "É mais um motivo em que a investigação melhora a qualidade".