“Hoje, com listas de 1.900 utentes, não é possível o atendimento adequado e correto de todos os utentes de cada médico de família”, afirmou à agência Lusa José Manuel Silva.

O bastonário comentou desta forma a manchete de hoje do Jornal de Notícias, segundo a qual o Governo quer dar mais 600 doentes a cada médico, uma medida apresentada como transitória, por três anos, para zonas com maiores carências destes profissionais.

“No futuro, quando houver médicos de família suficientes, o que acontecerá nos próximos anos - porque estão a entrar quase 500 novos jovens para tirar a especialidade de medicina geral e familiar -, nessa altura será necessário até reduzir as listas de médico de família, para que cada médico tenha mais tempo para os seus utentes”, acrescentou.

Só com horas extraordinárias

Para o bastonário, a medida só seria possível aumentando o horário dos médicos de família: “É uma questão de negociação sindical e de retribuição, com o pagamento de horas extraordinárias”. “Seria a única solução para, eventualmente, quem a pudesse aceitar”, sustentou.

De acordo com o JN, o Ministério da Saúde propõe pagar melhor a quem aceitar o acréscimo de pacientes.

“É preciso que tenhamos a consciência de que dentro do horário normal de trabalho é completamente impossível acomodar mais 600 utentes, que iriam degradar a qualidade da prestação de cuidados de saúde nos cuidados primários à população”, argumentou.

Segundo o jornal, o Ministério da Saúde apresentou na terça-feira uma proposta que visa dar incentivos aos médicos para passarem de 1.900 para até 2.500 utentes, mas os sindicatos consideram o número inaceitável.

“Seria pior a emenda do que o soneto, portanto só com horas extraordinárias”, declarou o bastonário.

O diário recorda que ainda há mais de um milhão de pessoas sem médico de família em Portugal e que o ministro da Saúde, Paulo Macedo, disse em março querer chegar ao fim da legislatura com mais 500.000 pessoas com clínico atribuído.