O menino de Gondomar, que adora o mundo marítimo, nasceu uma criança normal até aos 12 meses começar a demonstrar comportamentos pouco habituais. Começou a isolar-se, a não responder aos chamamentos dos pais. Foi nessa altura que Vânia e Carlos perceberam que algo estava a mudar e decidiram recorrer a ajuda médica.
Pouco tempo mais tarde, por volta dos 18 meses, depois de consultas com pediatras e uma psicóloga especializada, veio a confirmação do autismo.
Existem vários tipos de autismo e o de Bruno é o mais comum, que se caracteriza pela falha na comunicação, pelo isolamento. Mas isso nunca o impediu de fazer o que realmente lhe dá prazer
O gosto pelo desenho começou cedo e muito naturalmente, por volta dos 2/3 anos. Não dizia uma palavra, nem "pai" nem "mãe", mas expressava-se bem no papel. Aos 3 disse pela primeira vez “peixe”, o animal que mais gostava de desenhar.
“Tudo veio dele. Ele próprio procura novas formas de desenhar, novos tons, sombras a 3 dimensões, o que lhe chama à atenção”, refere Vânia.
Carlos e Vânia reconhecem que não é fácil lidar com uma criança autista mas confessam que sempre levaram uma vida tranquila porque foram ensinados a isso, foram ensinados a lidar com o seu próprio filho. “Os terapeutas também nos ensinam a nós”, explica Vânia, “ e isso é muito importante: haver a atenção com a criança mas também com os pais”.
De volta ao desenho, a inspiração de Bruno foi mudando ao longo do tempo. Primeiro o peixe, depois as orcas, os barcos, os três porquinhos, passando pelo Homem Aranha ou pelo Hulk, tudo foi recriado. Agora a sua veia artística está mais virada para o desenho abstrato e depois, quem sabe o que virá? Uma coisa é certa: Bruno é um perfecionista.
“Às vezes nem conseguimos gravar desenhos no computador, ele apaga logo. Porque para ele não deve estar perfeito. E se não está perfeito, deita fora”, explica Vânia.
Na escola é muito popular entre os colegas, pelos desenhos que faz. Todos o admiram, sejam eles alunos ou professores (os responsáveis pela sua inscrição no concurso de desenho onde ficou em segundo lugar).
Anda numa escola normal. Tem 9 anos e ainda não sabe ler, mas isso também não importa aos pais que querem que ele evolua como puder, desde que seja feliz. “Nós fazemos o que ele gosta mas também o que ele não gosta tanto, e tentamos incentivar”, revelam os pais.
Não gosta que lhe peçam para desenhar, gosta de seguir aquilo que a intuição o manda fazer. Tanto desenha no papel como no computador, onde já consegue ir mais além com o uso de diferentes ferramentas de desenho.
“Ele é uma criança alegre, bem disposta”, diz Carlos. “É uma criança feliz, tem um feitio muito próprio e é um apaixonada pelo desenho, pela imagem, por tudo. Essa é que é a paixão dele, está mais que evidente”, remata Vânia.
Os pais do Bruno nunca tentaram ter mais filhos. Não por não quererem mas porque têm receio que nasça outra criança autista. “Eu digo já que se tivesse outro filho com autismo acho que não aguentava”, desabafa a mãe. “Preferimos dar-lhe mais qualidade de vida”, completa o pai.
Bruno sempre foi incentivado a fazer coisas sozinho, a desenrascar-se, e a sua evolução é evidente. Carlos e Vânia não sabem prever o futuro e tão pouco sabem como ele vai ser e estar quando for adulto, apenas querem que ele seja independente e muito feliz.
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