O uso inadequado das novas tecnologias pode favorecer o aparecimento de novas condições psicológicas como, por exemplo, a apneia do WhatsApp (ansiedade por consultar mensagens de maneira compulsiva), a depressão do Facebook (necessidade de ver perfis de outros utilizadores como forma de reduzir a tristeza ao recordar momentos felizes do passado) e a síndrome do Google (o cérebro não consegue recordar e esquece dados como consequência do uso frequente de motores de busca).

Estas são algumas das conclusões de uma análise aos comportamentos online de portugueses e espanhóis realizado pela agência Guess What Comunicação em colaboração com a empresa Evidentia Marketing e a agência de comunicação espanhola Torres & Carrera.

Na véspera do Dia Mundial da Internet, estes dados vêm lembrar que a generalização do uso das redes sociais e dos serviços de mensagens instantâneas provoca a sensação de estarmos ligados aos outros através de um "like" ou de um "tweet". As novas tecnologias propiciam novas conexões cerebrais e favorecem novos métodos de aprendizagem.

As tecnopatologias

- Apneia do Whatsapp: Consultar o Whatsapp de forma compulsiva, sempre à espera de ter recebido uma nova mensagem;

- Síndrome da chamada imaginária: Esta síndrome desencadeia-se quando o cérebro faz imaginar que ouvimos o telefone a tocar ou a vibrar;

- Nomofobia: Nome que se dá à ansiedade e medo irracional da possibilidade de perder o telemóvel ou sair de casa sem ele;

- Depressão do Facebook: Afeta as pessoas que têm necessidade de ver perfis de outros utilizadores como forma de reduzir a tristeza ou recordar momentos felizes;

- Síndrome do Google: O cérebro não consegue recordar-se de um determinado dado como consequência de poder aceder facilmente a essa informação a qualquer momento;

- Hipersensibilidade electromagnética: É um transtorno neurológico que afeta determinadas pessoas que reagem perante as radiações electromagnéticas não ionizantes como aquelas que são emitidas pelos telemóveis ou antenas de rádio.

De acordo com o psiquiatra e premiado investigador Tiago Reis Marques, "nenhuma destas condições é reconhecida atualmente pelo meio médico. No entanto, a verdade é que o uso excessivo da internet (Facebook, Whatsapp, etc.) pode interferir negativamente nas relações interpessoais, e esses indivíduos podem apresentar fenómenos de tolerância bem como sintomas de abstinência, muito semelhantes aos que as pessoas com adições apresentam".

"Faço um paralelismo com a dependência dos videojogos, um fenómeno com cerca de 20 anos após a introdução na sociedade de jogos electrónicos extremamente populares entre adolescentes e jovens adultos", explica.

Já Marta Barroso Gonçalves, Digital Manager na agência de comunicação Guess What considera que "as novas tecnologias, que de novo nada têm, são já parte integrante do nosso dia-a-dia. Não há um despertar sem o alarme do telemóvel, é impensável estar num restaurante sem alguém a navegar nas sua rede de amigos, é inimaginável não acompanhar a mais simples notícia numa plataforma digital.

"Este é o nosso panorama atual e nada podemos ou devemos fazer para fugir dele. Aceitando tal como é, só nos resta adaptar e resolver qualquer tipo de exagero ou conter a utilização desmedida para não cairmos numa teia de novas condições psicológicas, estas sim novas e contornáveis", conclui.

Segundo o relatório da ANACOM “O consumidor de comunicações electrónicas 2015”, há cada vez mais os portugueses (com 15 ou mais anos) a consumir serviços de telecomunicações, tendo subido a percentagem dos que utilizavam três ou mais serviços de telecomunicações, de 59% em 2011, para 75% em 2015.

De acordo com o mesmo relatório, 73% dos lares têm serviços em pacotes, 40% dispõem de acesso a banda larga fixa por fibra ótica, 38% das pessoas têm banda larga no telemóvel e 67% dos utilizadores de telemóvel têm smartphones.