De acordo com o relatório do Programa Nacional para as Doenças Cérebro-Cardiovasculares, que é hoje apresentado, a mortalidade por Doença Isquémica Cardíaca manteve-se alterada, com um agravamento da mortalidade prematura (abaixo dos 70 anos).

Para os autores do documento, este resultado está “em clara dissonância com os restantes indicadores”, pelo que “deverá constituir um sinal de alerta e reforçar a necessidade de manter esta patologia dentro das prioridades de atuação dos diferentes intervenientes assistenciais”.

Um indicador positivo do relatório é que se morre cada vez menos por doenças do aparelho circulatório (menos 4,1% entre 2011 e 2015), tendo-se registado uma “grande redução de mortalidade ocorrida nas doenças cerebrovasculares (19,7%) e em particular no acidente vascular cerebral isquémico, abaixo dos 70 anos (redução de 39%).

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O resultado “superou a meta estabelecida, que se deve a um conjunto de fatores”, dos quais os autores destacam “o contributo da introdução na prática clínica dos novos anticoagulantes não dicumarínicos (NOC) como terapêutica anti trombótica da fibrilação auricular, bem como a consolidação da atividade de múltiplas unidades de AVC”.

Em 2015, morreram 1.834 pessoas devido a um AVC hemorrágico (causado pelo rebentamento de um vaso sanguíneo que provoca uma hemorragia no cérebro) e 4.598 por AVC isquémico (provocado por um coágulo bloqueia a artéria que leva o sangue ao cérebro).

As doenças cerebrovasculares continuam a atingir mortalmente mais homens (49,7 por 100.000 habitantes) que mulheres (43 por 100.000 habitantes).

Os dados provisórios de 2016 apontam para um decréscimo de 8,1%, do número de internamentos por doenças do aparelho circulatório face a 2011, entre os quais se destaca a diminuição de internamentos por enfarte agudo do miocárdio.

Registou em 2016 “um aumento dos internamentos por insuficiência cardíaca com mais 3.169 internamentos em relação a 2011, representando um aumento de 20,3%”.

Esta variação irá provavelmente assumir maior expressão futura atendendo ao envelhecimento progressivo da população, com importantes consequências na distribuição de recursos disponíveis”, referem os autores do documento.

No ano passado, ocorreram 110.745 episódios de internamento por doenças aparelho circulatório, dos quais 9.028 resultaram em óbitos.

O documento indica ainda que “o correto encaminhamento dos casos de AVC e de EAM através do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) traduz-se num ganho de tempo fundamental para a eficácia terapêutica”.

A Via Verde do AVC, prossegue o relatório, registou 3.386 de casos encaminhados em 2016 e, até setembro de 2017, 2.301 casos.

Os distritos com maior número de encaminhamentos são Lisboa e Porto, com 462 e 507 casos, respetivamente.

Os autores atribuem parte dos resultados obtidos às respostas farmacológicas, sendo que, na área cardiovascular, assumem “particular relevância” três classes farmacológicas: os antihipertensores, os antidislipidémicos (estatinas em particular) e os anticoagulantes e anti-trombóticos.

“O crescimento da sua utilização está inequivocamente relacionado com os resultados obtidos”, lê-se no relatório.

Consomem-se cada vez mais antihipertensores e antidislipidémicos, embora se tenha registado “uma redução global dos encargos do Serviço Nacional de Saúde (SNS)”, o que se deve a uma “redução progressiva dos custos unitários e utilização de fármacos com custo inferior”.

Nesta área, os encargos do SNS com a terapêutica diminuíram de 336,2 milhões de euros em 2012 para 330,5 milhões de euros em 2016. Por embalagem, o valor passou de 8,4 euros (2012) para 7,1 euros (2016).

Para 2020, o Programa Nacional para as Doenças Cerebrovasculares pretende reduzir o número de mortes antes dos 70 anos por doença do cérebro e do coração, diminuir para 7% as mortes por enfarte nos hospitais e aumentar, para 470 por milhão de habitantes, o número de tratamentos por angioplastia a pessoas com Enfarte Agudo do Miocárdio (EAM).

Aumentar para 1.800 o número de pessoas com AVC com acesso a tratamento específico e reduzir o consumo de sal entre 3 a 4% ao ano na população são outras das metas estabelecidas.