7 de novembro de 2013 - 11h18
O anúncio recente da Organização Mundial da Saúde (OMS) de que a contaminação do ar atmosférico é cancerígena pode fazer esquecer que um dos maiores inimigos dos pulmões está dentro de casa.
"A contaminação do ar interior é o quarto fator de risco mais importante" para a redução da esperança de vida, depois da alimentação, hipertensão e do tabagismo, explicou Ross Anderson, professor de epidemiologia e saúde pública da Universidade de Londres.
A contaminação exterior provocada por finas partículas libertadas pela indústria, pelos veículos ou pelos aquecimentos aparece apenas na nona posição deste ranking de fatores de morte precoce e incapacidade.
"A contaminação interior é causada principalmente pelo uso doméstico de combustíveis sólidos", como lenha e carvão, lembrou Anderson numa conferência organizada na semana passada pela União Internacional contra a Tuberculose e Doenças Respiratórias.
Cerca de 3 mil milhões de pessoas, sobretudo nos países pobres, utilizam "combustíveis sólidos" para cozinhar com fornos rudimentares ou fogo aberto, lembrou a União, uma organização fundada em 1920 para lutar contra a tuberculose.
Esses fornos rudimentares emitem partículas finas de monóxido de carbono - gás muito tóxico para o homem - e outros contaminantes em níveis "até cem vezes superiores aos limites recomendados pela Organização Mundial da Saúde", segundo a União.
Cozinhas ecológicas
A OMS estima que anualmente dois milhões de pessoas morram devido a sistemas deficientes de calefação. Deles, metade contraiu alguma doença pulmonar obstrutiva crónica, que afeta sobretudo mulheres.
Os estudos apontam três tipos de doenças respiratórias "altamente relacionadas" com a exposição ao fumo produzido pela combustão de lenha ou carvão: infeções agudas das vias respiratórias em crianças, broncopneumonias crónicas obstrutivas e cancro do pulmão.
Calcula-se que cerca da metade das mortes de crianças com menos de cinco anos por infeções respiratórias agudas se deva à contaminação do ar interior.
"Estamos todos vinculados ao ar que nos rodeia. Devemos considerar a contaminação do ar ambiente como um sério problema de saúde a nível mundial e exigir dos governos que se crie legislação adaptada, em particular para proteger as crianças", disse a diretora da União, Paula Fujiwara.
A Aliança Global para as Cozinhas Ecológicas (Global alliance for Clean Cookstoves), co-fundada pela OMS, pretende equipar 100 milhões de lares até 2020 com equipamentos de cozinha "limpos".
Esta organização, que conta com financiamento público-privado, não propõe uma solução única de "cozinha ecológica" para os países pobres, mas várias tecnologias apropriadas às culturas das diferentes regiões do planeta.
Nos países ricos, a contaminação das casas deve-se, principalmente, ao tabaco.
SAPO Saúde com AFP