O “afloramento costeiro” é um fenómeno em que águas mais profundas (mais frias e mais ricas em nutrientes) ascendem à superfície do oceano por indução do vento, no caso da costa da Somália devido à influência de ventos de sudoeste. Até à data não se conhecia qualquer investigação sobre o efeito das alterações climáticas no sistema de afloramento da costa da Somália, fenómeno com consequências no clima da região.

Uma delas, com impacto económico, é o aumento da biodiversidade marinha e, consequentemente, o potencial de pesca associado, segundo João Miguel Dias, um dos autores do estudo e coordenador do Núcleo de Modelação Estuarina e Costeira do Departamento de Física e do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (laboratório associado da UA).

No entanto, o “reverso da medalha” é que a intensificação dos ventos na região, devido ao aumento da temperatura do ar a nível global, irá aumentar o fenómeno de afloramento, conforme se prevê que ocorra na costa da Somália, explica a investigadora Magda Sousa, que participou no estudo, agora publicado na revista “Scientific Reports”.

O afloramento na costa da Somália está associado às monções, em que todos os verões as massas de ar de elevada humidade sobre o continente ficam mais quentes e sobem originando rajadas de ventos vindas do oceano Índico.

Essa humidade origina a formação de precipitação sobre o continente na forma de chuvas torrenciais, que podem durar vários dias, e que todos os anos causam inundações na Índia que, segundo os resultados deste estudo, feito para um horizonte temporal até 2100, podem vir a ter maior dimensão no futuro em resposta às alterações climáticas e à intensificação do afloramento costeiro na costa da Somália.

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