Os pais acreditam quase sempre que os filhos têm uma vida segura e estão mais protegidos dos riscos da vida em sociedade do que na realidade estão. Sendo que, esta falsa sensação de segurança deixa as crianças mais vulneráveis para serem vítimas de abusos sexuais.

No entanto, não se fala habitualmente de violência sexual de crianças e jovens. No entanto, a verdade é que se não se falar sobre violência sexual contra crianças, os pais continuarão desinformados, assim como a sociedade em geral.

O abuso sexual de crianças e jovens não acontece só aos outros, como realidade distante, pode acontecer na nossa família, na nossa comunidade e onde as nossas crianças passam tempo.

A Organização Mundial de Saúde chama a atenção para uma em cada cinco crianças ser vítima de abuso sexual, número este absolutamente assustador se nos dermos ao trabalho de pensar a respeito do seu alcance e significado.

Muitas das vezes o abusador é da própria família ou amigo próximo, o que é uma ideia difícil de interiorizar para os pais e sociedade em geral. A proximidade que se pode ter de pessoas abusadoras potencia também a falsa sensação de segurança. Diria mesmo que ninguém quer aceitar que um familiar nosso pode abusar de crianças ou jovens. Da mesma forma diria que se resiste à ideia de um amigopróximo, que se conhece há décadas, e com quem partilhamos não só as boas experiências, mas também com quem podemos contar nos piores momentos da vida, é um abusador de crianças. Não é fácil, mas é uma realidade hipotética confirmada pelas estatísticas existentes a este respeito, que atestam não só o número de denúncias existente como também a relação que os abusadores têm com as crianças vitimadas. 

O não falar sobre o abuso sexual de crianças apenas contribui para que a consolidação da ideia de que tudo está bem e que só acontece aos outros.

Mas a verdade não é essa. Se pensarmos que 5 crianças numa determinada escola serão, foram ou são vítimas, essas 5 crianças são filhos e filhas de alguém. Essas crianças brincam e convivem com as crianças que bem podem ser da nossa família. Estas crianças não estão longe das nossas vidas, antes pelo contrário.

Não menos importante é que as crianças abusadas sofrem em silêncio e não contam a ninguém o que lhes aconteceu. Daí a importância dos adultos estarem despertos para esta realidade, pois não só é necessário saber identificar sinais e conseguir antever e prevenir eventuais situações de abuso, como urge denunciá-las quando se adquire conhecimento das mesmas. Uma sociedade consciente, atenta e que esteja em alerta retira espaço e campo de atuação para os abusadores. Mas, para tanto, é preciso abrir espaço para o diálogo a respeito do tema, percebê-lo e atuar em conformidade.

Um artigo de opinião da advogada Ana Leonor Marciano, especialista em Direitos Humanos, violência de género, violência doméstica, Direitos das crianças.