A alteração do perfil demográfico e epidemiológico da população através do seu envelhecimento progressivo e aumento da esperança média de vida, veio criar pressão no sistema de saúde, com procura crescente de cuidados de saúde, capacidade de resposta limitada, maior exigência dos doentes e sobrelotação dos hospitais, conduzindo ao aumento da despesa em cuidados de saúde, com implicações na sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Decorrente desta realidade, urge a necessidade de descentralização de cuidados, para a comunidade e para o domicílio, surgindo a Hospitalização Domiciliária (HD). A primeira Unidade de Hospitalização Domiciliária (UHD) é criada em 2015 no Hospital Garcia de Orta em Almada, estendendo-se progressivamente a todo o SNS, existindo em 2022 uma adesão de 95% dos Hospitais do SNS ao programa de HD, com uma capacidade instalada para tratar 329 doentes em casa, tendo nesse ano tratado 9000 doentes.

A HD é um modelo de assistência hospitalar, alternativa ao internamento convencional, que coloca o doente no centro do cuidado, presta cuidados diferenciados, de proximidade, humanizados, com segurança, garantindo equidade e acessibilidade aos cuidados. A intervenção do Enfermeiro Especialistas em Enfermagem de Reabilitação (EEER) neste contexto é um desafio para a enfermagem de reabilitação contemporânea.

Permite desenvolver estratégias/planos de reabilitação com o doente e cuidador, ajustados ao seu domicílio, aos seus recursos e às suas rotinas, o que lhes permite obter um nível de funcionalidade, por vezes, até superior aquele que atingiriam se tratados no hospital. O EEER tem um papel fundamental no empoderamento do binómio doente/cuidador, com intervenções nas dimensões de aprendizagem de capacidades nos diagnósticos andar; auto-cuidados; equilíbrio corporal, pôr-se de pé; transferir-se; levantar-se; para uma maior autonomia dos mesmos, após fenómenos de transição saúde-doença. Intervém na gestão da doença crónica, como na Doença pulmonar obstrutiva crónica e na Insuficiência cardíaca, através do ensino/instrução/treino de inaloterapia, técnicas de conservação de energia, exercícios aeróbicos, respiratórios, de flexibilidade e de fortalecimento. Intervém também na gestão da doença aguda, como na patologia respiratória, com reabilitação funcional respiratória, capacitando doente e cuidador.

Por outro lado, o trabalho interdisciplinar em equipa nas UHD, com um plano individualizado de tratamento para cada doente, partilhado em equipa, permite a obtenção de resultados clínicos otimizados, o que é um fator de motivação/ confiança para doente/ cuidador/ família, aumentado a recetividade para desenvolverem competências de aprendizagem. As novas tecnologias de telessaúde, como a telemonitorização e, futuramente, serviços de telecuidados e de telerreabilitação, serão instrumentos ao dispor do EEER, para a melhoria da qualidade/segurança dos cuidados, promoção de autocuidados, literacia em saúde e customização de cuidados.

A inclusão do EEER na atividade assistencial das UHD é uma mais-valia para a obtenção de ganhos em saúde e para a promoção da sua imagem profissional na sociedade, transportando para o domicílio do doente os cuidados de enfermagem de reabilitação e aproximando os cuidados em HD aos que são prestados na estrutura física de um Hospital, o que permite ainda aumentar o número de doentes elegíveis para internamento em HD.