Segundo dados da Liga Portuguesa Contra o Cancro, o cancro é a segunda causa de morte mais frequente em Portugal, o que aumenta, cada vez mais, a necessidade de encontrar formas de o prevenir, detetar e tratar.

"As doenças oncológicas têm impactos muito fortes nos doentes, tanto a nível físico como psicológico e social. Cientes desta realidade, compete-nos a nós, profissionais de saúde, informar devidamente as pessoas e fazer os possíveis para tentar minimizar os seus efeitos. No campo da saúde oral, os impactos são maiores do que se poderia esperar, sendo, por isso, muito importante estar sempre atento à saúde da boca", começa por explicar Pedro Cosme, médico dentista na MALO CLINIC Lisboa.

"Ainda assim, é fundamental ressalvar que, durante os tratamentos de luta contra o cancro, qualquer intervenção cirúrgica oral deve ser evitada, uma vez que o sistema imunológico está comprometido, o que aumenta o risco de infeções e prolonga o processo de cicatrização. Por esse motivo, os tratamentos deste âmbito devem ser sempre realizados antes de se iniciarem os tratamentos oncológicos, para que, durante o combate à doença, a saúde oral esteja fortalecida e não surjam ainda mais complicações. De facto, problemas dentários pré-existentes e não diagnosticados ou mal tratados são responsáveis por um volume significativo das complicações decorrentes dos tratamentos oncológicos, podendo até obrigar a interrupção do tratamento e pôr em risco o sucesso do combate ao tumor", acrescenta.

Tendo isto em conta, Pedro Cosme revela três relações entre o cancro e a saúde oral:

  • Assegurar a saúde oral antes e durante o tratamento contra o cancro pode atenuar complicações como dificuldades ao comer ou falar: Durante a maioria dos tratamentos contra o cancro, nomeadamente a radioterapia e a quimioterapia, muitos pacientes enfrentam efeitos colaterais, como mucosite oral, que se caracteriza pela inflamação dos lábios e gengivas, e xerostomia, condição que promove a secura da boca e aumento da acidez. Estes sintomas podem dificultar ações básicas como comer ou falar, comprometendo ainda mais a qualidade de vida do paciente, e aumentam significativamente o risco e a velocidade de desenvolvimento de cáries e infeções gengivais. Assim, manter a saúde oral durante os tratamentos – e realizar todos os procedimentos orais necessários antes de os iniciar – pode ajudar a minimizar complicações, promovendo o bem-estar do doente e aumentando as hipóteses de sucesso do próprio tratamento oncológico. Como complemento a esses tratamentos, é ainda recomendada a escovagem com uma escova extra-macia e com uma pasta dentífrica com suplementação de flúor, que estimula e substitui a saliva, e a utilização de um batom hidratante, à prova de água, com proteção solar.
  • Acompanhar a saúde da boca pode ajudar a detetar precocemente sinais de cancro oral: Apesar da enorme evolução na maioria das terapêuticas oncológicas nos últimos anos, a sobrevida dos doentes diagnosticados com cancro oral não tem melhorado significativamente. Isso deve-se, principalmente, ao facto de este tipo de tumor ser geralmente detetado já em fases muito avançadas da doença. É importante estar atento, assim, a lesões orais ulceradas com base endurecida, que não cicatrizam por mais de duas a três semanas, e também a lesões pré-cancerosas, como manchas brancas (leucoplasia) ou manchas vermelhas (eritroplasia). Além disso, é fundamental controlar fatores de risco, como o consumo excessivo e regular de álcool ou tabaco, e acompanhar a saúde da boca, realizando regularmente consultas com o médico dentista ou higienista oral. Desta forma, poderá ser possível prevenir e detetar precocemente estes sinais, permitindo um tratamento imediato e aumentando as suas probabilidades de sucesso.
  • Uma saúde oral comprometida pode estar na origem de várias doenças, entre elas cinco tipos de cancro: Segundo um estudo do Egas Moniz School of Health & Science, uma saúde oral comprometida pode estar na origem do cancro do pulmão, do pâncreas, da mama, da próstata, e da cabeça e do pescoço. Na verdade, inflamações crónicas orais, como é o caso da gengivite ou da periodontite, podem promover um ambiente propício ao desenvolvimento de células cancerígenas. Esta relação reforça a necessidade de cuidar da saúde oral ao longo de toda a vida, como forma de ajudar a prevenir estas e outras doenças.