Muitos argumentam que o Natal é um tempo de família. Independentemente das crenças relacionadas com esta época, para quem a celebra, esta tende efetivamente a ser uma temporada repleta de interações e convívios familiares.

Se para alguns rever primos, tios, avós, e reviver algumas dinâmicas associadas à época natalícia são fonte de conforto, prazer e felicidade, para outros recordam-se memórias dolorosas ou até mesmo antecipam-se inúmeras discussões. Sejam estas discussões causadas por diferenças pessoais, políticas, ou quaisquer outras discordâncias, podem trazer um grande mal-estar. Acresce a este mal-estar, o cansaço e a limitação de recursos associado às exigências das tradições familiares e, por isso mesmo, por vezes, é muito difícil de evitar um mau ambiente e constrangimento.

Considerando estas dificuldades, a Associação Americana de Psicologia (APA) partilhou estratégias e cuidados para minimizar e atenuar estes momentos de tensão. Ao ingressar numa determinada discussão, ou troca de ideias deve procurar:

1. Examinar os seus objetivos e motivações. Segundo Norman Epstein, professor na Universidade de Maryland College Park, especializado em relações familiares, a motivação subjacente a uma conversa é, frequentemente, tão importante quanto a conversa em si. Por vezes, começamos, ou juntamo-nos a conversas acesas, para ganhar a discussão e provar que temos razão. Essa postura inflexível poderá trazer conversas pouco frutíferas e deixar memórias destes convívios manchadas com discussões e ruturas de relacionamentos.

2. Compreender como, ou porque é que a pessoa desenvolveu o seu ponto de vista. Convidar a outra pessoa a partilhar o seu ponto de vista, ouvindo-a sem interrupções, e mantendo uma atitude mais aberta e empática não só trará uma maior compreensão dos outros, enquanto pessoas, e seres humanos, como também trará mais e melhores conversas. Isso poderá fortalecer os seus relacionamentos.

3. Não “jogar sujo” nas discussões. Para isso é importante:

  • Restringir-se a um tema/ problema de cada vez, explicitando-o claramente e apoiando-se apenas em factos.
  • Expressar as suas opiniões e sentimentos utilizando declarações começadas por “eu”, evitando começar expressões com “tu” (muitas vezes, culpabilizantes e alimentam ataques pessoais).
  • Ser respeitoso e evitar ataques diretos. É possível discordar sem insultar a pessoa ou fazê-la sentir-se mal, pelo que deve procurar discordar sobre o tópico, mas não desrespeitar a pessoa.

4. Procurar pontos de concordância, mesmo que discordem fortemente noutros tópicos. Por exemplo, podem ter opiniões distintas sobre a vacinação, mas partilhar a preocupação sobre a saúde e segurança pública. Quando a concordância é explorada, os pontos de discórdia poderão ser debatidos de forma menos stressante e intensa.

5. Concordar em discordar. Está tudo bem em ter opiniões diferentes de alguém de quem gostamos (ou não tanto) e, por isso, é importante aceitar que podemos não conseguir fazer a outra pessoa mudar de ideias. Assim, utilize a conversa como uma oportunidade de partilhar pontos de vista e não de convencer que tem o melhor.

6. Saber quando terminar a conversa. Caso perceba que a conversa não irá chegar a uma resolução, será mais apropriado terminá-la de modo pacífico, mudando para outro tópico ou atividade familiar mais consensual.

7. Ser proativo e intencional na escolha de atividades e conversas. Um passo importante para que os eventos familiares sejam prazerosos é torná-los prazerosos, de forma intencional, planeando e sugerindo atividades divertidas e interessantes (por exemplo, contar histórias, fazer jogos, ver fotografias juntos). Isso ajudará a criar memórias mais agradáveis, focando no que vos une.

Apesar de todas estas sugestões, pode ser extremamente difícil lidar com os desafios familiares subjacentes à presente época. Caso isso lhe traga extremas dificuldades e stress, não hesite em, primeiramente, cuidar de si, procurando acompanhamento especializado no desenvolvimento de competências. Não está sozinho(a).

Um artigo dos psicólogos clínicos Samuel Silva e Mauro Paulino, da MIND | Instituto de Psicologia Clínica e Forense.