Pouco passava das 19h00 desta terça-feira, 27 de fevereiro, quando o palco do Palácio de Congressos NAU Salgados, em Albufeira, se iluminou para um momento histórico da gastronomia nacional. Pela primeira vez, no já longo percurso do Guia Michelin, Portugal apresenta uma cerimónia autónoma face a Espanha do referido manual da boa cozinha. Perante uma assistência de mais de 500 convidados subiram ao palco os novos galardoados com uma e duas estrelas Michelin. Uma noite com apresentação de Catarina Furtado que serviu de reafirmação de restaurantes já galardoados, mas também de novidades.

Com uma estrela Michelin (“uma cozinha de alto nível, merece uma paragem”), Portugal passa a contar a partir deste ano de 2024 com os restaurantes 2Monkeys (chefs Vitor Matos e Francisco Quintas, em Lisboa), Desarma (chef Octávio Freitas, no Funchal), Ó Balcão (chef Rodrigo Castelo, em Santarém), Sála de João Sá (chef João Pedro Sá, em Lisboa).

Com duas estrelas Michelin foi galardoado o restaurante Antiqvvm (chef Vítor Matos, no Porto). Todos os restaurantes galardoados com duas estrelas Michelin em 2023 mantiveram o galardão.

Do Algarve não chegou o anúncio de restaurantes portugueses com três estrelas Michelin.

Três restaurantes perderam a estrela que detinham, o Eneko Lisboa que encerrou portas em 2023, o Vistas, com o chef Rui Silvestre a deixar o restaurante para abraçar um novo projeto, o Fifty Seconds, em Lisboa. Também o restaurante Largo do Paço (Amarante), em remodelação, viu fugir-lhe a estrela.

Estrelas Michelin para 2024:

8 restaurantes com duas estrelas Michelin

31 restaurantes com uma estrela Michelin

Duas estrelas:

Antiqvvm - Vítor Matos (Porto) - nova entrada

Alma - Henrique Sá Pessoa (Lisboa)

Belcanto - José Avillez (Lisboa)

Casa de Chá da Boa Nova - Rui Paula (Leça da Palmeira)

Ocean – Hans Neuner (Alporchinhos)

Il Gallo D´Oro – Benoit Sinthon (Funchal)

The Yeatman – Ricardo Costa (Vila Nova de Gaia)

Vila Joya – Dieter Koschina (Albufeira)

Uma estrela:

2Monkeys - Vítor Mato/Francisco Quintas (Lisboa) - nova entrada

100 Maneiras - Ljubomir Stanisic (Lisboa)

A Cozinha - António Loureiro (Guimarães)

Al Sud - Louis Anjos (Lagos)

A Ver Tavira - Luís Brito (Tavira)

Bon Bon – José Lopes (Carvoeiro)

Cura - Pedro Pena Bastos (Lisboa)

Desarma - Octávio Freitas (Funchal) - nova entrada

Encanto - José Avillez (Lisboa)

Eleven – Joachim Koerper (Lisboa)

Euskalduna Studio - Vasco Coelho Santos (Porto)

Epur - Vincent Farges (Lisboa)

Esporão - Carlos Teixeira (Reguengos de Monsaraz)

Kabuki Lisboa - Sebastião Coutinho (Lisboa)

Kanazawa - Paulo Morais (Lisboa)

Feitoria - André Cruz (Lisboa)

Fifty Seconds - Rui Silvestre (Lisboa)

Fortaleza do Guincho - Gil Fernandes (Cascais)

Gusto by Heinz Beck -  Heinz Beck (Almancil)

G. Pousada - Óscar Gonçalves (Bragança)

Lab by Sergi Arola – Sergi Arola (Sintra)

Le Monument - Julien Montbabut (Porto)

Loco – Alexandre Silva (Lisboa)

Mesa de Lemos - Diogo Rocha (Viseu)

Midori – Pedro Almeida (Sintra)

Ó Balcão - Rodrigo Castelo (Santarém) - nova entrada

Pedro Lemos – Pedro Lemos (Porto)

Sála de João Sá - João Pedro Sá (Lisboa) - nova entrada

Vila Foz - Arnaldo Azevedo (Porto)

Vista - João Oliveira (Praia da Rocha)

William – Luís Pestana (Funchal)

Categoria introduzida há dois anos, a Estrela Verde Michelin (compromisso com a gastronomia sustentável) mereceu uma particular atenção na cerimónia portuguesa. Foram galardoados os restaurantes Malhadinha Nova (chef João Sousa, em Albernoa) e Ó Balcão (chef Rodrigo Castelo, em Santarém).

A cerimónia contou ainda com a entrega do "Prémio Sala", atribuído a Pedro Marques (The Yeatman, em Vila Nova de Gaia); o "Prémio Melhor Sommelier", entregue a Leonel Nunes (Il Gallo D'Oro, no Funchal); e o "Prémio Jovem Chef" que seguiu para as mãos de Rita Magro (Blind, Porto).

Foram ainda anunciados os 21 novos Restaurantes Recomendados no Guia Michelin. Ao palco, subiram os chefs a trabalhar nos restaurantes Apego (Porto), Bahr (Lisboa), Blind (Porto), Bomfim 1896 (Pinhão), Casa do Gadanha (Estremoz), Cavalariça (Comporta), Downunder (Lisboa), Fago (Marvão), Fauno (Porto), Gastro by Elemento (Porto), Horta (Funchal), Lamelas (Porto Covo), Ma (Coimbra), Noélia (Cabanas de Tavira), Numa (Portimão), O Palco (Coimbra), Quinta do Tedo (Folgosa), Seiva (David Jesus), Sem (Lisboa), Sem Porta (Muda), Vinha (Vila Nova de Gaia).

Também em destaque nesta noite Michelin, em Portugal, estiveram os restaurantes Bib Gourmand (boa relação qualidade/preço): Flora (Viseu), Inato Bistrô (Braga), Norma (Guimarães), O Pastus (Paço de Arcos), Olaias (Figueira da Foz), Oma (Baião), Pátio 44 (Porto), Poda (em Montemor-o-Novo).

Contas feitas, Portugal conta agora com oito restaurantes com duas estrelas Michelin, 31 com uma estrela Michelin e cinco espaços reconhecidos com a Estrela Verde Michelin.

Também os discursos: "Um momento muito importante para Portugal"

A anteceder a entrega das estrelas Michelin, Maria Paz Robina Rosat, Diretora-Geral da Michelin Espanha-Portugal, endereçou algumas palavras à audiência. “A ligação entre Portugal e Michelin é histórica, com mais de cem anos. A gala desta noite é um marco importante, a primeira a realizar-se em e para Portugal (…) esta gala é uma oportunidade para reconhecer a dedicação de todos aqueles que permitem que a gastronomia portuguesa brilhe”.

Gwendal Poullennec, Diretor Internacional do Guia Michelin, sublinhou ser este “um momento muito importante para Portugal e para o Guia Michelin. Este é um momento histórico, estamos a organizar a cerimónia Michelin exclusivamente em Portugal. Reflete a realidade contemporânea que a gastronomia portuguesa experiencia”. Poullennec elogiou os chefs e a forma como apostam em novos conceitos”.  De acordo com Gwendal Poullennec, “estejam à procura de restaurantes recomendados pela sua cozinha ou extraordinários restaurantes com propostas culinárias excelentes, o nosso guia para 2024 é rico em surpresas”.

Carlos Abade, Presidente do Turismo de Portugal, sublinhou o percurso da gastronomia nacional, “fator que enriquece a experiência turística, que agrega valor às regiões. O Turismo de Portugal está interessado na promoção da gastronomia, mas também na formação dos atuais e futuros profissionais. Temos o orgulho de saber que chefs hoje com estrela Michelin passaram pelas escolas de hotelaria”.

michelin 2024
créditos: Michelin Portugal

António Costa Silva, Ministro da Economia e do Mar, adiantou “que esta noite é um passo extraordinário para colocar Portugal no caminho do Turismo mundial. Saliento a excelência dos operadores turísticos”. O governante deixou um desejo: “queremos mais estrelas Michelin”.

Portugal chegava a 2024 com 45 estrelas

Recorde-se que a 22 de novembro de 2022, Portugal assistiu à cerimónia de entrega das estrelas Michelin para o ano de 2023, ainda num evento conjunto dos dois países ibéricos, realizada em Toledo, Espanha.

No momento foram galardoados cinco novos restaurantes com uma estrela Michelin. Subiram então ao palco do Palácio de Congressos El Greco os chefs José Avillez, do restaurante Encanto (Lisboa); Vasco Coelho Santos, do Euskalduna Studio (Porto); Paulo Alves, com o Kabuki Lisboa; Paulo Morais com o seu Kanazawa (Lisboa) e Julien Montbabut, do Le Monument (Porto).

Portugal arrecadou ainda uma estrela verde para o restaurante Mesa de Lemos (Viseu), casa com a cozinha entregue ao chef Diogo Rocha (já com uma estrela Michelin conquistada em 2021).

O nosso país passava a contar com 38 restaurantes galardoados com a estrela Michelin, num total de 45 estrelas distribuídas, respetivamente, por 31 restaurantes com uma estrela e sete estabelecimentos com duas. Entretanto, no decorrer do ano de 2023, o restaurante Eneko Lisboa, com uma estrela Michelin encerrou portas. Menos uma estrela passou a brilhar no firmamento da restauração nacional.

Para atribuir as estrelas aos restaurantes, os inspetores, que trabalham de forma anónima, valorizam a qualidade dos produtos, o domínio dos pontos de cozinha e das texturas, o equilíbrio e harmonia dos sabores, a personalidade da cozinha e a regularidade.

Uma história que recua ao início do século XX

Viajando para longe deste tempo de mediatismo Michelin, recuemos perto de nove décadas para encontrar algo que, por analogia, podemos ver como os tetravós dos atuais templos da gastronomia passível de merecer estrela. Nas páginas amarelecidas do Guia Michelin de 1936 para Portugal e Espanha ou, preferindo-se, Espanha e Portugal, vamos ver citados seis restaurantes com a digna estrela e uma casa com a dupla distinção.

Nesses anos que antecediam a Segunda Guerra Mundial, período que somado à Guerra Civil de Espanha, ditaria a ausência do guia por estas bandas, o Escondidinho, no Porto, alcançava as duas estrelas Michelin. Também no norte do país, o Santa Luzia (Viana do Castelo) e o Hotel Mesquita (Vila Nova de Famalicão) erguiam a primeira estrela. No sul, o Clube Naval, em Setúbal, e o trio lisboeta Petermann, Chave D´Ouro e Avenida, arrecadavam uma estrela.

A restauração portuguesa já andava pelas páginas do guia desde 1910, ainda os fulgores da República ecoavam frescos. Os já citados Santa Luzia e Mesquita mereciam menção na publicação (teriam a primeira estrela em 1929) que nascera dez anos antes, em 1900, na viragem do século XIX para o XX, como forma de apoio na estrada dos clientes que adquiriam pneus da marca francesa. Uma empresa criada em 1888 pelos irmãos Édouard e André Michelin.