Vemo-lo crescer de forma espontânea à beira de muitas azinhagas nas regiões mais meridionais do nosso país, particularmente no Alentejo e Algarve. O aspeto um tanto ou quanto hostil e agreste desta planta (Opuntia ficus-indica) semelhante a um cato, de onde desponta o Figo da Índia, esconde o enorme potencial em termos nutricionais, medicinais e mesmo económicos. No México, país de onde é originário, a produção de Opuntia pode ser equiparada à da tequila ou à do milho.

Esta planta tem história, muita, contando uma epopeia com perto de nove mil anos, suscitando lendas, viagens transcontinentais e mesmo um certo mistério. O próprio nome espelha a expressão geográfica desta espécie: tabaibeira, figo do diabo, figueira-da-Índia, piteira, tuna, figueira tuna, palma.

Em Portugal não nos é estranho o termo piteira e, quem já provou estes figos sabe, por alturas do verão, quão bom é descobrir-lhes a polpa sumarenta, madura, um tanto ou quanto gelatinosa. Diz quem já o provou que o sabor se situa entre o da pera e o do melão. Um fruto inspirador para quem na cozinha se lança na produção de compotas, geleias, licores, gelados, iogurtes.

E não é somente no sabor que este fruto diz não à monotonia. A própria cor é diversa dependendo da região onde o fruto amadurece: verde, amarelo, rosa-salmão, castanho ou vermelho. Em termos internacionais, algumas celebridades como a atriz brasileira Juliana Paes têm alertado para os benefícios nutricionais que o fruto apresenta.

Quais são, então estas mais-valias? O fruto contém propriedades antioxidantes, benéficas para a saúde, para além dos bons níveis de potássio, magnésio, cálcio e vitaminas C, A, B1 e B2. Em suma, oferecem uma generosa quantidade de nutrientes e energia.

Benefícios que não se ficam apenas na polpa. Das sementes do fruto é extraído um óleo com simpáticas propriedades para o corpo e utilizado em produtos de cosmética e beleza. Já, a nível medicinal, a planta que dá origem ao Figo da Índia é muito utilizada no fabrico de alguns produtos farmacêuticos.

Propriedades terapêuticas que os povos que milenarmente habitam os continentes centro e sul americano foram percebendo pelo uso continuado do Figo-da-Índia e da planta que lhe está na origem.

figo-da-índia

Uma dimensão social que acabou por espicaçar a própria cultura imaterial. A este propósito conta-nos Clara Inés Olaya, autora do livro “Frutos Tropicais”. Reza a lenda que pelo século XII, os Astecas iniciaram uma longa peregrinação em direção ao sul, em busca de um lugar para fixar morada. Uma jornada nómada que se prolongou por quase dois séculos até assentarem morada, já na centúria de XIV, próximo ao lago Texcoco. Ai avistaram uma águia pousada sobre um nopal (Opuntia), com os seus frutos maduros, cobertos de pétalas vermelhas. Ai fundaram Tenochtitlán, que significa “lugar onde o nopal cresce sobre a pedra”, hoje conhecido como Cidade do México.

Ainda segundo Olaya, a partir do século XVII, por iniciativa dos espanhóis, que viram naquele fruto uma boa fonte de tinta corante vermelha, o Figo-da-Índia espalhou-se por toda a Europa, sobretudo na região do Mediterrâneo. Daí ganhou outros continentes, ocupando também a Ásia e o norte da África.