Figura familiar de Saint-Germain-des-Prés, onde estabeleceu a sua boutique principal, a inventora da "démode" (um estilo sem complexos no qual cada pessoa adapta a moda a sua personalidade), Sonia Flis nasceu em Paris a 25 de maio de 1930.

Proveniente de um lar abastado, de pai francês e mãe romena, a mais velha de cinco filhas seguiu o caminho habitual de uma jovem de boas famílias. Frequentou um instituto para meninas em Neuilly (Hauts-de-Seine), casou e tinha apenas um sonho: ter dez filhos.

Mas, ao ficar grávida, não encontrou roupas que gostasse, e começou a criar vestidos e pullovers justos, vendidos na loja do seu marido, no famoso distrito XVI de Paris. O chamado "Poor Boy Sweater" teve um sucesso imediato e chegou à capa da revista Elle: todas as mulheres queriam levar uma peça.

Seis anos depois, em pleno maio de 68, Sonia Rykiel abria a sua primeira loja no Quartier Latin. Naquele momento não sabia nada de moda, nem costurar, nem tecer, e as dúvidas tomavam conta dela a todo momento.

"Todos os dias dizia a mim mesma: 'Vou fechar, porque não sei o que faço, não sei nada", confessaria anos mais tarde.

A jovem pendurou algumas roupas na montra, acompanhadas por livros. "Jamais pude separar a literatura da moda, fazem parte da mesma história", dizia esta amante das letras, que escrevia sobre seus pullovers palavras como "amor", "artista" ou "sexo", na forma de pequenos manifestos.

Após 10 anos de dúvidas, Rykiel decidiu apostar no mundo da moda. Uma moda distante das tendências, que ela concebia para uma mulher ativa, interessada pela atualidade mundial, "intelectual" e livre, como as mulheres que nos anos 80 tiravam os seus sutiãs e proclamavam alto e forte que o seu corpo lhes pertencia.

Hedonista e sedutora

Foi Rykiel quem lançou as costuras invertidas. Fez do preto a cor da feminilidade e da sedução e tornou famosos os seus pullovers de listas coloridas, decorando as suas roupas com temas ou palavras em lantejoulas. Utilizava especialmente o tricô "pela ternura, pela doçura".

Sonia Rykiel preconizou a "démode", convidando as mulheres a rejeitar os "diktats" dos estilistas e a criar o seu próprio armário, adaptado ao seu corpo e à sua personalidade.

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