Adepto das colaborações artísticas, o estilista norte-irlandês voltou a apelar às esculturas da americana Lynda Beglis para fazer a cenografia do desfile, realizado no castelo de Vincennes, nos arredores da capital francesa.

Logo de entrada, uma enorme sweat em lã grossa, sem mangas, com grandes botões dourados, foi apresentada, reinterpretada nas cores vermelha ou preta.

Em seguida, uma jovem magra com calças justíssimas quase até o peito remetia para o traje de um toureiro.

A Loewe é uma marca de luxo espanhola (atualmente integrada no grupo francês LVMH), que durante gerações fez das peles e dos artigos de hipismo e cavalaria a sua especialidade.

"Tenho a sensação de que foi como uma viagem de dez anos", explicou Anderson à imprensa, ao resumir a sua colaboração com a marca.

"O que desfrutei neste processo foi como criar uma atitude dentro de uma marca. Penso que cheguei a um ponto em que entendo essa atitude, com as malas, com as coleções femininas e masculinas", acrescentou.

Anderson tem vindo a polir as fronteiras entre os géneros e os seus desfiles costumam apresentar peças unissexo.

O couro continua a ser o ADN da Loewe, mas Anderson aprendeu a brincar com ele, como é o caso do casaco longo a combinar com uma bolsa enorme. Como se fosse por acaso, uma das abas do casaco está inserida dentro da bolsa, deixando de fora as nádegas da modelo.

Para encerrar o desfile, o estilista recorreu a um recurso já usado em coleções masculinas: uma enorme agulha dourada, que fecha como um broche a parte da frente de um vestido de gala na cor marfim.

Anderson foi em parte criado em Ibiza, onde passou longas temporadas numa casa que pertencia aos seus pais.

"De certa forma, acredito que é isso é o que mais amo em Espanha: tem algo muito autêntico. Não existem casas de luxo. É como (se tivesse) uma espécie de responsabilidade", afirmou.

"Capturar o que não tem forma"

O japonês Issey Miyake também gosta de desfilar em Paris em colaboração com artistas, mas no seu caso com coreografias de companhias de dança para as quais desenhou figurinos em várias ocasiões.

O seu vestuário para a primavera/verão de 2024 baseia-se em ombreiras exageradas, grandes volumes e vestidos justos, plissados ou com nós.

O nome da sua coleção é "Capturar o que não tem forma".

Depressão primaveril

Miyake persegue a luz e o movimento em cores generosas, enquanto Henry Levy, estilista da marca Enfants Riches Deprimés ("Crianças ricas deprimidas"), com sede em Los Angeles, cultiva um lado obscuro.

As suas criações agradam estrelas do rock como Courtney Love, que assistiu ao desfile no Oratório de Paris, assim como atores como Jared Leto.

Entre o gótico e o punk, a sua proposta alimenta-se de toda a iconografia americana: casacos sobrepostos por cima de camisas extra-largas ou extra-curtas, botas de cowboy e meias aparentes.

Outras peças que chamaram à atenção foram os casacos de pele pretos ou brancos, a abundância de bijuteria e as cruzes estampadas nas costas.

Levy também se sabe aventurar em fatos masculinos para ele ou para ela, perfeitamente cortados, em lã, com broches que torcem o tecido.

Destaque para o casaco de grandes dimensões em seda estampada e tons de azul, um tecido que o estilista arrematou num leilão e com o qual encerrou o desfile.