Para trás ficaram os vestidos de alta-costura criados por Cardin, e sua história de amor com a atriz Jeanne Moreau, que ajudaram a construir a fama mundial do estilista francês.

De um lado, estão as sobrinhas-netas do criador, em torno das quais está unida a maior parte da família Cardin. Estas querem a venda do grupo e denunciam o que chamam de "tentativa de roubo da herança".

Do outro lado, está o sobrinho-neto do estilista, Rodrigo Basilicati-Cardin, que se tornou diretor-geral do grupo em 2018 e presidente em 2020. Este diz que trabalhou por cerca de 25 anos ao lado do tio-avô, e que deseja "respeitar a vontade de Pierre Cardin, preservar o seu império e defender a sua imagem".

Pierre Cardin, criador visionário e empresário multifacetado, morreu no fim de dezembro de 2020, aos 98 anos. O estilista, que não teve filhos, deixou um grande património: uma holding e as suas subsidiárias, licenças, marcas e imóveis em Paris e no sul de França.

Os ativos do grupo estão avaliados entre 750 e 800 milhões de euros, segundo as propostas de compra, informou à AFP o advogado das sobrinhas-netas, Jean-Louis Rivière. Estas acusam o primo de querer "resgatar todo o património individual de Pierre Cardin e do grupo com manobras duvidosas e, eventualmente, fraudulentas", diz o advogado.

Está em questão um testamento assinado por Pierre Cardin em novembro de 2016, que designa Rodrigo Basilicati-Cardin como único herdeiro. Basilicati-Cardin encontrou esse documento em 2022, no prédio parisiense do seu tio-avô, uma descoberta "oportuna", após uma oferta de compra do grupo com a qual "85% dos herdeiros concordam", destacou Rivière. A validade do testamento é questionada junto do tribunal civil de Paris.

A batalha entre os clãs Cardin chegou ao campo criminal depois de a promotoria de Paris abrir uma investigação, após uma queixa apresentada em março pelas sobrinhas-netas por abuso de fragilidade, de confiança agravada e fraude, entre outras coisas.

As sobrinhas-netas apresentaram outros pedidos desde o início do ano, uma delas rejeitada em junho. As outras, que estão a ser analisadas, referem-se a abuso de confiança e falsificação, e fraude e abuso de confiança.

Em uma das denúncias, as sobrinhas-netas contestam as condições em que Basilicati-Cardin assumiu o controle da holding, dias após a morte do tio-avô. Estas dúvidas giram em torno da validade da ata de transferência de partes que a sua avó Giovanna Cardin teria assinado dias antes da sua morte, em março de 2000, aos 97 anos.

Rodrigo Basilicati-Cardin reagiu em junho, com um processo por difamação. "Alguns membros da família, que não aceitam que Pierre Cardin me tenha designado como seu sucessor, intensificam os seus processos e tentam mobilizar a imprensa com acusações falsas que têm como único objetivo prejudicar-me e afetar o grupo", afirmou.

Sob o impulso de Basilicati-Cardin, a empresa Pierre Cardin regressou em março ao calendário oficial do prêt-à-porter feminino em Paris, após 25 anos afastada. "Pierre Cardin deu-me conselhos importantes sobre a sua visão da marca, e isso é um tesouro que quero desenvolver", comentou o sobrinho-neto do estilista.