A criação de fio de algodão, vulgarmente chamado de guita ou faniqueira de jogar ao pião, de cor branca e com seis metros de diâmetro, é de um costureiro do Porto que gastou mais de 1.230 horas na confeção do vestido.
"A chama do coração de Viana faz o peito do vestido e o coração propriamente dito desenvolve-se em toda a frente do vestido. Na parte de trás recreie algumas peças de filigrana mais usadas pelas mordomas quando envergam os trajes regionais, preenchidas com 868 cristais Swarowski de cor turquesa, vermelha e verde", afirmou hoje à Lusa o costureiro Fernando Lima.
A peça, composta por "imensos metros de tule e rematada com piões", está em exposta no Museu de Artes Decorativas de Viana do Castelo, cidade que a partir de sexta-feira e até domingo vai viver "um momento alto de exaltação do ouro e dos trajes regionais.
A inspiração, explicou o costureiro, surgiu "ao ver o trabalho difícil de quem trabalha a filigrana e dá corpo a muitas das peças utilizadas pelas mordomas durante as festas da Agonia.
O vestido agora em exposição até final de setembro integra o projeto "Alma de Viana" que inclui um serviço de porcelana e um faqueiro banhado a ouro igualmente com o coração de Viana como tema central.
O projeto do costureiro do Porto foi lançado em 2015 quando, também durante as festas da Agonia, lançou um outro vestido de noiva, em seda natural e veludo preto, inspirado no traje de mordoma de Viana, com o típico coração da cidade bordado à mão, na cauda da saia, composto por 70 mil cristais Swarowski e avaliado em 38 mil euros.
"Eu inspiro-me em Viana porque me encanta a perfeição da sua etnografia. Tudo é feito com a perfeição que eu tento alcançar no meu trabalho. No Minho essa perfeição é brutal em quase todas as romarias", sustentou.
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Atualmente em processo de certificação o "traje à vianesa" em linho, nas suas várias cores características e formas, é um símbolo da região que a mulher de Viana envergou até aos finais do século XIX consoante a ocasião, momento da vida e o seu estatuto.
As características do traje, como o seu colorido e a profusão de elementos decorativos, permitem identificar facilmente a região de origem, no concelho, motivo pelo qual se transformou, segundo os especialistas, "num símbolo da identidade local".
Já o uso do ouro manifestava a riqueza da família, mas sobretudo o orgulho da mulher.
A riqueza da história do traje demonstra-se igualmente no espírito da mulher de Viana do Castelo na atualidade, que faz questão de ir à festa, com a sua ‘chieira' (termo minhoto que significa orgulho), engalanada com o ouro de filigrana, e uma peça de roupa típica.
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