No início do ano, a Chanel anunciava o lançamento de um novo perfume. Chanel Nº 5 L'Eau é talvez uma fragrância a pensar nas mulheres mais jovens uma vez que a própria marca a descreve como uma “personificação moderna, fresca e vibrante do agora e do perfume de agora e de sempre”, ou simplesmente “o Nº 5 da atualidade”.

A verdade é que este perfume já tem muitos anos às costas: 95 para sermos mais precisos. Não é por isso de estranhar que a Chanel esteja a tentar apelar ao público feminino mais jovem. E para isso escolheu nada mais, nada menos do que uma das mais jovens “it girls” da atualidade: Lily-Rose Depp (sim, a filha de Vanessa Paradis e Johnny Depp), um sopro de ar fresco traduzido numa figura esguia e olhar misterioso de uma rapariga de 17 anos, que contrasta com as figuras femininas mais maduras e sofisticadas associadas ao perfume original como Marilyn Monroe, Catherine Deneuve, Nicole Kidman ou mais recentemente Gisele Bünchden.

O legado de um nome

De acordo com o site da marca, o novo Chanel No. 5 L'Eau “reescreve o mito com audácia para transformar uma herança num conto contemporâneo”.

O nome Chanel é uma referência no mundo da moda e os perfumistas que trabalham nesta marca têm a tarefa de se tornarem “porteiros para proteger o legado do Chanel Nº 5”, explicou Jean Loy, especialista em fragrâncias da Chanel, em declarações ao The Jakarta Post.

E foi ao “porteiro-mor”, Olivier Polge, que coube a árdua tarefa de reinventar um dos perfumes mais icónicos do mundo e apresenta-lo com um toque de contemporaneidade. O talento vem de família uma vez que o pai de Polge foi uma das figuras mais importantes dos perfumes Chanel, sendo responsável por fragrâncias como Coco Mademoiselle, Chance e Allure.

Mas o próprio já tinha dado mostras do seu trabalho ao ter inventado sucessos como o perfume Viktor & Rolf Flowerbomb. “Em vez de me sentir sobrecarregado pelo peso desta herança e da lenda em torno deste perfume, eu vi uma oportunidade especialmente em termos de frescura. A frescura é interessante porque fornece espontaneidade”, confessou Olivier Polge.

Chanel Nº 5 l'eau

O perfumista acrescentou ainda que gosta "do conceito ‘Eau’ porque expressa frescura para este perfume que era originalmente muito opulento. E no entanto, durante a sua desconstrução, o perfume manteve-se fiel à “linha orientadora” que o define como Nº 5”, acrescentando que “presta uma homenagem ao original mas sente-se mais jovem”.

Chanel Nº5, o início

Como todas as histórias que se perdem na memória, também a história deste perfume é feita de algumas lendas. Diz-se que o nascimento do Nº 5 aconteceu depois de Coco Chanel ter conhecido o perfumista Ernest Beaux, em 1920, numa altura em que os estilistas dedicavam-se a criar roupa e os perfumistas a criar perfumes.

Chanel lançou o desafio: queria um perfume que “cheirasse como uma mulher e não como uma rosa”. Depois de Beaux apresentar uma série de amostras numeradas, a escolhida foi a número 5 pois Coco ia apresentar a sua coleção no dia 5 do quinto mês (maio), acreditando que esse número daria sorte.

Se esta história é real ou não, não temos a certeza, mas que o número acabou por dar sorte, disso parece não haver muitas dúvidas.

Chanel Nº 5
Litografia Sem

A composição do perfume permitiu que a sua fragrância se prolongasse em contacto com a pele, tonando o Chanel Nº 5 um perfume mais adequado à “mulher moderna”, que à época tinha uma vida mais ocupada e gostos mais complexos. A combinação de jasmim, rosa e sândalo chegou, viu e venceu. E perdurou até aos dias de hoje.

Pensando na realidade atual, o sucesso do perfume pouco se deveu a uma elaborada campanha de marketing mas a fama foi-lhe juntando uma legião de fãs. No entanto, a partir da década de 1940, o perfume é associado a campanhas de publicidade glamourosas com o slogan “"Every Woman Alive Loves Chanel No. 5" (Todas as mulheres que existem amam o Chanel Nº 5, em tradução livre).

Talvez a publicidade mais icónica seja aquela que apresenta a atriz Catherine Deneuve, um dos nomes mais populares da década de 1970, abrindo portas para outras atrizes que emprestaram a sua imagem ao perfume da marca.

Chanel Nº 5
créditos: Cortesia The Richard Avedon Foundation

Mas curiosamente, a melhor publicidade alguma vez feita a este perfume não foi intencional e teve Marilyn Monroe como protagonista. É célebre a resposta da atriz, na altura com 26 anos, quando questionada sobre o que usava para dormir, numa entrevista à LIFE Magazine. “Apenas umas gotas de Chanel Nº 5”. E com esta declaração nasceu a lenda “Chanel Nº 5”. Monroe ajudou novamente a marca numa sessão fotográfica, no ano seguinte, em 1953, quando numa sequência de fotografias na sua cama, um frasco do perfume aparece consecutivamente na sua mesa de cabeceira, confirmando a sua afirmação anterior.

E qual era a mulher que não gostaria de usar o mesmo perfume que uma das estrelas de Hollywood mais sexys da altura (ou mesmo de sempre)?

Chanel Nº5, o presente

Mas a que é que se deve o sucesso duradouro de um perfume como 95 anos? Há quem acredite que o status que a marca Chanel tem no mercado permite-lhe atrair o interesse de mulheres, de vários estratos sociais, que procuram o estatuto de riqueza e exclusividade que a marca continua a representar nos dias de hoje, que não é exclusivo aos perfumes e que se estende a acessórios ou peças de roupa.

Recentemente, a marca Chanel, liderada pelo lendário Karl Lagerfeld, decidiu lançar uma série de vídeos através do site “Inside Chanel” que recriam a identidade da marca, do passado ao presente. E incontornavelmente nos levam e viagem à história deste perfume.

Não temos a certeza de que o Chanel Nº. 5 L'Eau reescreva a “obra de arte” Chanel Nº 5 mas como afirmou Jean Loy "o perfume é uma armadura especial. É uma linguagem invisível que usamos para comunicar ".