“Heavenly Bodies: Fashion and the Catholic Imagination " é o tema escolhido pelo Metropolitan Museum of Art (MET) para o próximo baile e exibição que se irá realizar na primeira segunda-feira de maio em Nova Iorque.
“Alguns podem achar que a moda não é a forma mais adequada para se discutir ideias sobre o sagrado ou o divino. Mas a roupa é central para qualquer discussão em torno da religião; afirma a nossa pertença religiosa e, por acréscimo, afirma as nossas diferenças religiosas”, explicou Andrew Bolton, curador da exposição, durante uma conferência de imprensa que teve lugar em Roma no início do ano e cuja exposição contou o aval do Vaticano.
De acordo com a revista Vogue, a exibição vai contar com perto de 200 peças que vão estar espalhadas pelo Anna Wintour Costume Center, nas galerias medievais, na ala Robert Lehman e em outras instalações anexas aos claustros do museu. Ao todo a “Heavenly Bodies: Fashion and the Catholic Imagination” ocupa 60 mil metros quadrados tornando-a, nas palavras do curador, “na maior e na mais ambiciosa exposição que o MET alguma vez fez.”
Para a ocasião, a sacristia da Capela Sistina emprestou 40 vestes litúrgicas e acessórios que vão desde o século XVIII até ao século XXI e que, por serem parte central da exposição, vão ser expostas no Anna Wintour Costume Center e separadas das peças contemporâneas.
Entre as relíquias está a tiara coberta com 19 mil pedras preciosas que a rainha Isabel II de Espanha ofereceu ao Papa Pio IX ou o mitra (barrete usado por bispos, arcebispos e cardeais) que Benito Mussolini ofereceu a Pio XI, a batina ou os sapatos vermelhos usados pelo Papa João Paulo II. É de destacar que grande parte das peças que vão integrar a exposição nunca saíram do Vaticano.
Versace, Dolce & Gabbana, Valentino, Balenciaga e Christian Lacroix são alguns dos designers contemporâneos escolhidos para integrar a exposição e cujas 150 peças podem ser vistas nas restantes partes do museu juntamente com quadros que têm a curadoria de C. Griffith Mann, responsável do Departamento de Arte Medieval do MET.
A exposição tem como objetivo explorar a forma com a imagem católica e o storytelling moldou as mentes criativas dos designers católicos. “Enquanto curador, tenho sempre interesse em perceber o que motiva a criatividade e o que se esconde na mente dos criadores e artistas. Nunca pensei que fosse a religião. Nunca pensei que o facto de crescer católico pudesse ter um impacto no desenvolvimento ou impulso criativo”, referiu o curador à Vogue.
Para a ocasião foram mandados fazer por encomenda 175 manequins inspirados na Pietà de Miguel Ângelo e a estátua de Joana d’Arc do escultor Prosper d'Épinay.
Mas como é organizado e qual o objetivo daquele que é considerado um dos maiores eventos sociais do ano?
Organização e objetivo do evento
O Baile do MET é um evento de beneficência organizado pelo Costume Institute do Metropolitan Museum of Art (MET) cujo objetivo é angariar fundos para se auto-financiar durante os próximos 12 meses. Só em 2016, o MET conseguiu angariar mais de 12 milhões de euros. O evento serve de momento inaugural para a exposição de moda que todos os anos é organizada pelo Costume Institute e que só abre ao público no dia seguinte.
“A moda era vista como frívola e trivial quando comparada com as belas artes do século XIX, mas a verdade é que tinha um conceito, uma estética, determinadas regras, técnicas refinadas... Ou seja, tudo aquilo a que sujeitamos o critério de arte. Olhamos para as roupas como obras de arte”, afirmou durante o documentário 'The First Monday in May' (2015) Harold Koda, antigo curador responsável do Costume Institute, que está localizado num piso subterrâneo do MET e que alberga a maior coleção de moda do mundo.
O estilista britânico Alexander McQueen, que cometeu suicídio em 2010, foi uma figura fulcral nesta aceitação e mudança de mentalidade perante a moda como forma de arte. Em maio de 2011, o MET inaugurou Alexander McQueen: Savage Beauty, uma exposição em honra do estilista que se tornou na terceira mais visitada na história do Costume Institute.
Preparativos e decoração
O Baile do MET começa a ser preparado com cerca de oito meses de antecedência sob o pulso firme de Anna Wintour, editor in chief da Vogue e trustee do Costume Institute. “É frustrante porque nem sempre se compreende a narrativa e complexidade do evento do ponto de vista do designer. Tento não prestar atenção à opinião dos outros em termos de expectativas e tento confiar na minha decisão. Muitas pessoas têm uma compreensão superficial sobre a moda. Sobrestimam o poder que as peças de roupas têm em contar uma história ou tocar a vida das pessoas”, referiu Andrew Bolton, curador responsável do Costume Institute, durante o documentário a propósito da exposição China: Through The Looking Glass que se realizou em 2014.
Após a seleção dos estilistas, a exibição começa a ganhar forma num storyboard onde constam as criações selecionadas para integrar a exposição e com que objetos de arte irão ser conjugadas. Para além de supervisionar as instalações e o design da exposição, Anna Wintour fica encarregue de elaborar a lista de convidados, organizar as mesas, pensar na decoração e na iluminação do evento.
Recorde-se que a relação entre o Costume Institute e a Vogue é algo que já vem desde os anos 70, altura em que Diana Vreeland se tornou consultora no Costume Institute do MET após abandonar o cargo de editor in chief da Vogue. Contudo o primeiro Baile do MET teve lugar em 1948 pela mão da publicista Eleanor Lambert que começou o evento como uma atividade filantrópica para a elite nova-iorquina.
Tema do evento, dress code e convidados
Todos os anos a organização divulga o tema da exposição preparada pelo Costume Institute que poderá refletir-se, ou não, na indumentária escolhida pelos convidados.
É de destacar que cada criador de moda costuma escolher uma celebridade que, para além de o acompanhar ao evento, deverá vestir uma criação assinada por si. Esta é uma forma dos designers escolhem a sua musa, ou seja, a pessoa que melhor define a estética dos seus designs.
Apesar da vertente solidária do evento, a verdade é que nem todos os convidados são obrigados a pagar 27,500 euros por um bilhete ou 252 mil euros por uma mesa. As exceções à regra aplicam-se em duas situações distintas: as celebridades que são convidadas pelos designers para o evento e os estilistas que, por estarem em início de carreira ou não terem possibilidade de comprar o bilhete, são convidados por Anna Wintour.
O Baile do MET, que este ano será organizado pela cantora Rihanna, Amal Clooney e Donatella Versace, desenrola-se da seguinte maneira: após passarem pela passadeira vermelha e cocktail, os convidados são os primeiros a fazer uma visita pela exposição. O evento termina com um jantar e a atuação de um artista convidado pela organização.
“Heavenly Bodies: Fashion and the Catholic Imagination” abre ao público no dia 10 de maio e vai estar patente no MET até 8 de outubro.
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