Há momentos na vida em que é imprescindível reforçar o sistema linfático.

Após uma cirurgia, esta necessidade ainda é maior.

Os benefícios da drenagem linfática manual comprovam a importância da técnica e possibilitam uma recuperação pós-operatória mais satisfatória, confortável e menos incómoda para o paciente.

Gabriela Lacerda é linfoterapeuta, formadora e diretora da primeira Clínica de Drenagem Linfática Manual Dr. Vodder do País, a Dermoarte. «Tenho feito muitas formações nas melhores escolas europeias, quer no que respeita ao estudo da drenagem linfática manual, quer do tratamento dos linfedemas. Sou uma apaixonada por esta área», confessa. E tem sido assim ao longo de 25 anos.

A drenagem linfática manual pelo método original Dr. Vodder «é uma técnica muito específica de estimulação do sistema linfático», adianta Gabriela Lacerda. O termo drenagem linfática foi utilizado pela primeira vez por Emil Vodder, médico dinamarquês responsável pela criação e desenvolvimento desta técnica, durante os anos 30 do séc. XX. Este método obedece a um protocolo de execução extremamente rigoroso com movimentos específicos para cada parte do corpo.

«O nosso corpo é composto por 60 a 70% de água. Vamos tendo pequenos inchaços e micro-edemas e o sistema linfático tem o papel de retirar esse excedente de líquido que se acumula nos tecidos, depurá-lo, passando por verdadeiras fortalezas no nosso corpo (gânglios linfáticos), terminando no sistema circulatório venoso», explica a linfoterapeuta. Biscaia Fraga, cirurgião plástico, confessa-se um acérrimo defensor desta técnica «desde que seja executada por uma pessoa que a domine completamente», sublinha.

Quando recorrer a esta técnica?

Todas as pessoas têm sistema linfático. «Sem ele não viveríamos», indica Gabriela Lacerda. «Com a técnica da drenagem linfática manual conseguimos aumentar as defesas do organismo. Quando, por qualquer motivo, o sistema linfático é lesado por várias causas externas, surge o linfedema secundário», reforça a linfoterapeuta.

Uma das ações que pode lesar localmente o sistema linfático é uma cirurgia e uma das suas consequências é o aparecimento de um edema. Por esse motivo, «o toque para realização da drenagem linfática deve ser suave para podermos promover o que chamamos de reabsorção e não o inverso», salienta a linfoterapeuta.

Existem muitos médicos a recomendar os serviços da Clínica de Drenagem Linfática Manual Dr. Vodder para seguimento dos pacientes no pós-operatório. «Podemos trabalhar 24 horas após uma determinada cirurgia mas também aconselhamos este tratamento antes da cirurgia. Duas sessões são suficientes para uma boa profilaxia», assegura Gabriela Lacerda.

De acordo com Biscaia Fraga, «esta técnica é adequada a todo o tipo de liposucção». «Especialmente nas primeiras três a oito semanas, dependendo dos casos, bem como na cirurgia clássica, pois faz com que o processo da cicatrização seja mais adequado», sublinha o especialista.

É, por exemplo, uma técnica de excelência «na recuperação da cirurgia aos membros, em especial os inferiores, na abdominoplastia, cirurgia mamária, e cirurgia da face e pescoço», acrescenta. Para além dos pré e pós operatórios, «a drenagem linfática manual também é benéfica em casos de dores menstruais, acne ou celulite, podendo mesmo ser um recurso antes, durante e após a gravidez», indica Gabriela Lacerda.

Primeira consulta

É feito o historial clínico do paciente e recolhem-se as informações mais importantes sobre o seu estado de saúde. Por seu lado, o paciente pode aproveitar para esclarecer algumas dúvidas. O tratamento pode começar no próprio dia, caso haja disponibilidade, ou no dia seguinte. Algumas pessoas receiam sentir dor com a drenagem linfática manual mas o que acontece é precisamente o oposto.

«Uma das primeiras coisas que o paciente vai sentir é um alívio substancial da dor depois da primeira sessão, bem como a redução do edema e a diminuição do hematoma», garante Gabriela Lacerda. «É importante dizer que a pessoa não sente dor. Se a drenagem for bem realizada, num espaço adequado e com bons profissionais, o método é indolor», sublinha a linfoterapeuta.

Sessões terapêuticas

A técnica de drenagem linfática manual Dr. Vodder pressupõe um movimento muito leve que trabalha a extensão da pele. «Por esse motivo, não se deve utilizar qualquer produto, creme ou óleos, pois seria aplicada mais pressão do que a necessária. Basta utilizar, por exemplo, pó de talco, que permite retirar a humidade da pele. Na drenagem linfática, não são os produtos que vão promover bons resultados mas sim o rigor na execução dos movimentos», refere.

«Precisamos apenas do estímulo certo ao sistema linfático do paciente. Estimulando adequadamente o seu sistema linfático, este vai funcionar melhor, permitindo retirar o excedente de líquido existente», reforça a linfoterapeuta. «Começa por ser uma massagem muito suave e superficial e vai evoluindo em termos de profundidade à medida que os dias do pós-operatório vão passando, ativando a circulação linfática para que os tecidos recuperem mais rapidamente», acrescenta o cirurgião plástico Biscaia Fraga.

O procedimento propriamente dito depende do objetivo que se quer atingir e do caso que está a ser tratado. «No caso de uma lipoaspiração abdominal, por exemplo, dedicamos uma hora a trabalhar o abdómen, utilizando as técnicas manuais do método original Dr. Vodder mais adequadas ao estado da paciente», explica Gabriela Lacerda. Para além disso, «é imperativo iniciar e terminar sempre cada sessão pelo estímulo dos gânglios cervicais», acrescenta.

Principais benefícios

«A drenagem linfática manual vai provocar o estímulo do sistema linfático. Atua pelas suas funções relaxante, drenante e analgésica, mas são as suas características terapêuticas que tornam esta técnica indispensável nos tratamentos de linfedemas», explica Gabriela Lacerda. Na opinião do cirurgião plástico Biscaia Fraga, a drenagem linfática manual «é muito útil porque nivela os tecidos e consegue homogeneizar a sua espessura».

«Faz com que o pós-operatório seja muito mais rápido, menos doloroso e menos incómodo para o paciente. Em simultâneo, confere-lhe conforto e bem-estar», acrescenta. Este tratamento é benéfico também pelo seu efeito relaxante, permite que o paciente tenha noites mais descansadas, diminui as insónias e permite o aceleramento da cicatrização depois de uma cirurgia. Quanto mais cedo for iniciado o tratamento, mais rapidamente os pacientes recomeçam a sua atividade profissional.

Outros benefícios

A drenagem linfática manual é benéfica não só no pré e pós-operatórios, como em casos de dores menstruais, edemas de origem linfática (linfedemas), enxaquecas, pernas pesadas ou cansadas, acne ou celulite, podendo mesmo ser um recurso antes, durante e após a gravidez. Contraindicações Os doentes crónicos devem evitar esta técnica quando estão em crise ou fase aguda da doença.

Fora desses períodos, «podem ou não fazer a drenagem de acordo com a análise do seu estado clínico», salienta Gabriela Lacerda. Também está contraindicada «no caso de infeção ou inflamação aguda, porque a manobra poderia contribuir para aumentar a superfície da infeção, e no caso de hemorragia aguda, porque é necessário repouso absoluto para o paciente», acrescenta Biscaia Fraga. Para além disso, não é recomendada a pessoas com descompensação cardíaca.

Texto: Cláudia Pinto com Gabriela Lacerda (linfoterapeuta) e Biscaia Fraga (cirurgião plástico)