Basta observar crianças e adolescentes no recreio da escola ou nos corredores de um centro comercial e logo se identifica um denominador comum. Estão todos com os seus smartphones ou tablets na mão, a trocar mensagens, a jogar os jogos mais recentes ou ligados a redes sociais. Porém, o uso em demasia destes aparelhos tem prejudicado a visão das crianças e adolescentes.

 

É isto que defende a Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO). Os especialistas são categóricos em dizer que tablets, telemóveis e computadores são contraindicados para os pequenos. «A geração atual está a desenvolver miopia, que é a dificuldade para ver ao longe, mais precocemente e em graus muito maiores do que as gerações anteriores», alerta a SPO.

 

A miopia tem vários fatores, sendo os mais importantes o genético e o ambiental. A doença está associada ao esforço acomodativo, isto é, ver coisas pequenas muito de perto, em movimento ou no escuro.

 

Se a criança passa muito tempo em frente ao computador, a jogos de telemóvel, a ler ou a ver televisão no escuro ou ainda ver filmes no DVD do automóvel, o cérebro entende que o importante é a visão de perto, que vai ficando cada vez melhor, em detrimento da visão ao longe, explicam os oftalmologistas.

 

Os aparelhos modernos são prejudiciais e o risco de ter a doença aumenta se a criança tiver predisposição genética, ou seja, míopes na família, ou se for detetada uma tendência num exame oftalmológico de rotina.

Números preocupantes

Segundo dados SPO, 20 por cento das crianças e jovens portugueses em idade escolar sofrem de algum problema de visão, como miopia, hipermetropia e astigmatismo. Estima-se que entre 4 a 5 por cento das crianças que todos os anos iniciam o 1º ano do ensino básico sejam amblíopes, isto é, praticamente cegas de um olho.

 

De acordo com a Agência Internacional de Prevenção da Cegueira, ligada à Organização Mundial de Saúde (OMS), estima que pelo menos 53 mil crianças e jovens portugueses têm alguma deficiência visual e cerca de 100 crianças ficaram cegas por causa de doenças oculares que poderiam ser evitadas ou tratadas caso detetadas precocemente.

 

A importância dos exames

O primeiro exame visual deve ser feito logo que a criança nasce. Este teste permite detetar qualquer patologia que cause obstrução no eixo visual, como catarata, glaucoma congénito e ainda opacidades congénitas da córnea, tumores ou inflamações intraoculares e hemorragias intravítreas.

 

O teste tem como objetivo a diminuição da incidência da cegueira infantil. Caso o resultado seja anormal ou duvidoso, o bebé deve ser encaminhado para uma consulta oftalmológica de urgência, de acordo com as directivas da Direção-Geral da Saúde.

Os pais devem estar atentos

Normalmente, quando os sinais aparecem a doença já está bastante avançada. É muito difícil os pais perceberem os problemas na fase inicial. Por isso, as avaliações de rotina são fundamentais.

 

Os sinais mais perigosos indicativos de doença ocular são o aparecimento de um reflexo esbranquiçado nas fotografias, assimetria do reflexo vermelho do flash entre os olhos e estrabismo (desvio dos olhos), consideram os oftalmologistas.

 

Outros sinais de que a visão do seu filho não vai bem são dores de cabeça frequentes, franzir a testa e apertar os olhos para ler e a necessidade se sentar muito próximo do quadro na escola ou demasiado perto da televisão.

 

Todos estes sintomas podem ser causados por erros de refração, como miopia, hipermetropia e astigmatismo. Além disso, a criança com erro de refração tende a ser mais lenta no desempenho escolar, pode apresentar dificuldade de concentração e desinteresse nas atividades.

 

Por vezes, as crianças têm um diagnóstico errado de hiperatividade, quando na realidade têm hipermetropia alta, ou seja, dificuldade na visão ao perto. Crianças com miopia alta já foram inclusive confundidas com autistas, pois por não conseguirem ver nada além de 50 cm, tornaram-se introspectivas, muito sossegadas e com dificuldades de relacionamento.

 

A Sociedade Portuguesa de Oftalmologia aconselha que as crianças devam fazer uma avaliação oftalmológica completa de seis em seis meses até completarem dois anos de idade, e depois marcar exames anuais até os 10 anos ou sempre que houver necessidade.

 

Além disso, a SPO recomenda que os pais restrinjam o tempo de utilização de aparelhos tecnológicos. Segundo a SPO, o importante é estimular brincadeiras ao ar livre, de preferência em locais abertos como parques.

 

 

Maria João Pratt