"Definimos como qualidade o ajustamento que existe entre as características e as necessidades das crianças que são acolhidas e os serviços e os recursos que são prestados pelas casas que os acolhem", explicou à Lusa a responsável pelo projeto, Maria Barbosa-Ducharne.

O EQAR - Estudo da Qualidade do Acolhimento Residencial é desenvolvido pelo Grupo de Investigação e Intervenção em Acolhimento e Adoção (GIIAA) da Unidade Desenvolvimento e Educação do Centro de Psicologia da Universidade do Porto (UP), sediado na FPCEUP.

De acordo com a coordenadora, o interesse da equipa de investigação "centra-se nas crianças que, por razões diversas, não puderam crescer nas famílias nas quais nasceram e têm uma história de vida de adversidade".

"Um em cada 250 portugueses, com menos de 18 anos, vive numa casa de acolhimento", o que é uma situação "preocupante", apesar da diminuição do número de crianças acolhidas nos últimos anos. Para a recolha de dados, os investigadores estão a entrevistar os diretores das casas de acolhimento residencial, os cuidadores (psicólogos e educadores, por exemplo) e vão ser ao todo mais de 1.500 crianças, com mais de seis anos, a participar.

Enquanto avalia, a equipa também observa o espaço físico e o ambiente que circunda as crianças e faz uma análise documental de alguns processos, escolhidos de forma aleatória.

Dos resultados obtidos, a coordenadora indicou que fatores como a segurança, a normalização de vida, "a possibilidade de ter uma mesada", "de levar os amigos a lanchar ou estudar em casa", "de praticar uma atividade desportiva" ou "aprender uma língua em centros da comunidade", influenciam o nível de bem-estar dessas crianças.

Para cada casa de acolhimento são destacados cinco dos 16 investigadores que compõem o EQAR, que almoçam e jantam com as crianças durante o tempo de avaliação, período que varia entre um ou dois dias, consoante o "tamanho da casa".

"Em casas com mais de 12 crianças a equipa avalia em dois dias", disse a investigadora, esclarecendo que a divisão é feita por casas pequenas (até 12 crianças), casas médias (de 13 a 24) e casas grandes (com mais de 24).

Como "contrapartida" por participarem no estudo, os investigadores oferecem às casas de acolhimento interessadas, um relatório de qualidade, no qual indicam "pistas" de melhoria, "numa perspetiva de intervenção social e aplicação dos dados de investigação".

Até à data foram avaliadas 25 casas dos distritos de Braga, do Porto e de Aveiro, bem como da região autónoma da Madeira.

Neste momento, a equipa, liderada pelas investigadoras Sónia Rodrigues e Joana Campos, está a recolher dados em Lisboa e, entre fim de maio e início de junho, começam o processo também na zona do Algarve.

O EQAR iniciou em 2012 e a previsão é que termine a recolha de dados em meados de 2017.

É financiado ao abrigo do Programa de Mecenato Científico pelas empresas Paulo C. Barbosa - Soluções de Lubrificação, Cork Supply Portugal, SA - empresa de cortiças -, NAIP - Navegação Agência Internacional Portuguesa, SA, e LCB Twins - consultoria imobiliária.

Jorge del Valle, investigador da Universidade de Oviedo, Espanha e "internacionalmente reconhecido" como especialista nesta área, profere hoje uma conferência na FPCEUP intitulada "Presente y futuro del acogimiento residencial en la protección infantil".