As intervenções individuais para ajudar as gestantes e as mães de primeira viagem (mães pela primeira vez) a amamentar ainda são recomendadas, mas as políticas sistemáticas ou de âmbito hospitalar tendem a mostrar poucos benefícios, destaca o relatório da Força-tarefa de Serviços Preventivos dos Estados Unidos (USPSTF), uma comissão independente de especialistas.

A amamentação materna oferece uma melhor nutrição para o bebé, assim como um impulso para a formação do seu sistema imunitário. Por outro lado, ajuda as mães a criarem vínculos com seus filhos e acelera a perda de peso materno após o nascimento.

"Há provas convincentes de que a amamentação proporciona benefícios substanciais para a saúde das crianças e provas suficientes de que a amamentação fornece benefícios moderados para a saúde das mulheres", destaca o relatório publicado na revista científica Journal of the American Medical Association (JAMA). "No entanto, quase metade de todas as mães dos Estados Unidos que inicialmente amamentam param de fazer isso aos seis meses", acrescentou.

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Apenas 22% dos bebés americanos são amamentados exclusivamente durante os primeiros seis meses de vida, embora 80% tenham sido amamentados em algum momento, o que sugere que as mulheres enfrentem vários desafios que as impedem ou impossibilitam de continuar a amamentar.

Para atualizar suas recomendações de 2008, a força-tarefa reviu evidências de dezenas de estudos, novos e velhos, sobre a eficácia de vários tipos de intervenções na amamentação. Os especialistas descobriram que as intervenções mais eficazes foram as assistências individuais prestadas por pessoal treinado, principalmente quando oferecidas reiteradamente. As mães tendem a recusar as primeiras ajudas.

Políticas atuais podem prejudicar mãe e recém-nascido

As políticas hospitalares destinadas a incentivar a amamentação através da implementação de uma série de etapas pré-determinadas não mostraram qualquer efeito significativo na melhoria da amamentação, conclui esta meta-análise.

Algumas das políticas em vigor podem inclusivamente prejudicar o recém-nascido e a progenitora, alertou o editorial da JAMA  assinado pelas médicas Valerie Flaherman e Isabelle Von Kohorn.

Por exemplo, o passo 9 da Iniciativa Hospital Amigo da Criança da Organização Mundial da Saúde (OMS) incentiva os pais a evitarem dar chupeta aos bebés pelo risco desta atrapalhar a amamentação. No entanto, esta nova revisão científica "mostrou que evitar a chupeta não está associado a quaisquer resultados na qualidade da amamentação".

A chupeta é recomendada para ajudar a reduzir o risco de síndrome de morte súbita infantil (SMSI), a principal causa de morte de recém-nascidos no ocidente, "o aconselhamento de rotina para evitar a chupeta pode muito bem ser eticamente problemático", lê-se no editorial.

Outra fonte de controvérsia é o conselho seis do referido plano da OMS: as recém-mamãs não devem alimentar os seus bebés com fórmulas infantis nos primeiros dias de vida, mas fornecer apenas leite materno, a menos que seja medicamente necessário.

Este conselho não só não provou ser benéfico para a amamentação do ponto de vista científico, como ficou provado neste estudo que tal prática pode aumentar o risco de desidratação e de reinternação de bebés durante a primeira semana de vida, visto que o leite materno nem sempre é produzido imediatamente: pode levar dequatro a sete dias.

"Embora essas condições sejam geralmente brandas e muitas vezes resolvidas rapidamente, a sua frequência é alta; 1 a 2% de todos os recém-nascidos dos Estados Unidos precisam de ser readmitidos na primeira semana de vida, e o risco é de aproximadamente o dobro para aqueles alimentados exclusivamente com leite materno", lê-se no editorial.

Apenas leite da mãe? Se calhar não

Finalmente, as recomendações de longa data de que os bebés devem ser alimentados somente com leite materno durante os primeiros seis meses de vida podem ter de ser reconsideradas à luz de estudos recentes.

As novas investigações mostram que alguns bebés podem beneficiar da introdução de alimentos altamente alergénicos, como o amendoim, nos primeiros quatro a seis meses de vida: tal diminuiria o risco de alergias alimentares no futuro.

O editorial pede ainda aos médicos que exerçam o seu julgamento individual e procurem abordagens personalizadas para ajudar as mulheres com necessidades de amamentação. "Uma abordagem única e uniforme é ineficaz para melhorar a duração da amamentação na população", conclui a meta-análise.