Um novo estudo publicado hoje na revista An International Journal of Obstetrics and Gynaecology (BJOG), indica que o consumo muito moderado de álcool durante a gravidez «não é prejudicial ao desenvolvimento do bebé».

 

Este estudo recolheu dados do Millennium Cohort Study, um estudo britânico que acompanhou o crescimento de crianças nascidas no Reino Unido entre 2000-2002, para avaliar se beber pouco (até duas unidades de álcool por semana) durante a gravidez estaria associado a resultados desfavoráveis no desenvolvimento de crianças de sete anos de idade.

 

Investigações anteriores já tinham mostrado a existência de uma relação entre o consumo excessivo de álcool durante a gravidez e problemas de desenvolvimento e de saúde em crianças. Contudo, os efeitos de um consumo muito moderado de álcool permaneciam pouco claros.

 

Os investigadores, da University College, Londres, utilizaram informação de entrevistas domiciliárias e questionários preenchidos por pais e professores de 10534 crianças de sete anos de idade para identificarem comportamentos sociais e emocionais (como hiperatividade ou problemas de atenção ou conduta). As crianças também foram testadas para o desempenho cognitivo em matemática, leitura e aptidão espacial.

 

Os grupos que compunham a amostra compreendiam mães que nunca beberam (12,7%), mães que não beberam durante a gravidez mas que costumam beber (57,1%), mães que bebiam moderadamente (23,1%) e mães que beberam consideravelmente durante a gravidez (7,2 %).

 

Este estudo agora publicado incidiu sobre os resultados das crianças nascidas de mães que beberam moderadamente e de mãe que se abstiveram de beber álcool durante a gravidez.

 

As crianças nascidas de consumidoras moderadas demonstraram menor dificuldades comportamentais do que as crianças nascidas de mães que se abstiveram de beber álcool durante a gravidez. Contudo, a diferença não é significativa. Além disso, as crianças nascidas de consumidoras moderadas também mostraram resultados cognitivos favoráveis, mas tal é estatisticamente insignificante, exceto na leitura e na aptidão espacial dos rapazes.

 

O estudo conclui que enquanto as crianças nascidas mães que consumiram moderadamente álcool durante a gravidez pareciam ter perfis de desenvolvimento mais favoráveis em comparação com aquelas que nasceram de mães que não beberam durante a gravidez, após o ajuste estatístico as diferenças desapareceram.

 

Yvonne Kelly, co-autora do estudo e co-diretora do ESRC International Centre for Lifecourse Studies, da University College, de Londres, afirma que «Não parece haver aumento do risco de impactos negativos no desenvolvimento comportamental e cognitivo, em crianças de sete anos, provenientes do consumo moderado de álcool durante a gravidez». A especialista acrescenta que «temos de perceber mais sobre de que forma os ambientes familiares influenciam o desenvolvimento comportamental e intelectual das crianças. Embora tenhamos seguido estas crianças durante os seus primeiros sete anos de vida, é necessária mais investigação para detetar se os efeitos adversos de baixos níveis de consumo de álcool na gravidez surgirão mais tarde».

 

John Thorp, vice-editor da BJOG, indica que «estes resultados, que beber não mais do que uma ou duas unidades de álcool por semana durante a gravidez não está ligada a problemas de desenvolvimento no início de meados de infância, são consistentes com as directrizes atuais do Department of Health (do Reino Unido)».

 

Mas acrescenta que «no entanto, ainda não é claro que nível de consumo de álcool pode ter resultados adversos, pelo que não deve ser alterado o conselho atual de que em caso de preocupação, a opção mais segura é não consumir álcool durante a gravidez».

 

Patrick O'Brien, porta-voz do Royal College pf Obstetricians and Gynaecoloists (RCOG) e obstetra, afirma que o estudo foi muito bem desenhado, mas que tanto as futuras mães como os médicos devem perceber que «ninguém está a sugerir que o consumo de álcool durante a gravidez é benéfico».

que a pesquisa foi muito bem projetado.

Em Portugal, as diretrizes da Direção-Geral da Saúde aconselham a total abstinência de consumo de álcool durante a gravidez.

 

 

Maria João Pratt