No âmbito da Semana Mundial do Aleitamento Materno, que anualmente se celebra na primeira semana de outubro em Portugal e Espanha e que esta edição conta com o lema “Amamentação: Uma Chave para o Desenvolvimento Sustentável”, a Medela, empresa suiça especializada em aleitamento materno e que distribui os seus produtos em mais de 100 países, apresenta o estudo “The Health Economic Value of Feeding Human Milk to Preterm Infant”, promovido pela Medela e realizado pelo York Health Economics Consortium (YHEC), instituto de investigação dependente da Universidade de York, no Reino Unido.

A principal conclusão deste trabalho de investigação afirma que alimentar o bebé prematuro exclusivamente com leite materno suporia uma poupança estimada por criança de 1.039,60 euros durante toda a sua vida. Portugal é um dos países com maior taxa de nascimentos prematuros da Europa. Segundo dados do relatório Euro-Peristat, uma em cada cerca de 13 crianças nascidas em Portugal são bebés pré-termo, pelo que nascem anualmente no nosso país cerca de 7.736 crianças prematuras. A poupança de custos estimada, tendo por base as conclusões do estudo, ascenderia a 8,04 milhões de euros anuais.

O York Health Economics Consortium (YHEC) desenvolveu um modelo para calcular o valor económico derivado da redução da incidência, severidade e risco de padecer de determinadas doenças e complicações em recém-nascidos prematuros alimentados exclusivamente com leite materno, face aos que são alimentados com leite de fórmula. Apesar do estudo ter utilizado o sistema de saúde britânico como modelo, o decréscimo das taxas de complicações, doenças e mortalidade, e a poupança que suporia a alimentação exclusiva com leite materno seria similar a economias comparáveis, como poderia ser a portuguesa.

Neste sentido, da poupança total estimada por criança, cerca de 64,5% (670,6€) aplica-se ao período durante o qual o bebé permanece hospitalizado na Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais (UCIN) e os 35,5% restantes (369€) estariam vinculados à redução de doenças a longo prazo e complicações após alta hospitalar.

Os benefícios económicos do leite materno a longo prazo
Há mais de 50 anos que a Medela estimula a investigação no âmbito do aleitamento materno. Conhecimento que partilha com a comunidade científica, através de simpósios dirigidos a um público profissional; e com a sociedade, realizando um trabalho de divulgação sobre os benefícios do leite materno para a saúde do bebé e seus padrões de lactação.

O leite materno contém células-mãe, mais de 130 açúcares complexos (oligossacáridos), mais de 400 proteínas e é um fluído vivo que se adapta progressivamente às necessidades do bebé. Há evidências científicas que demonstram que, pela composição do leite materno e a forma sinérgica como reagem os seus componentes, proporcionar em exclusivo este alimento aos bebés pré-termo reduz o risco de desenvolvimento de diferentes doenças, tanto as que se manifestam no período em que o bebé está internado na Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais (UCIN), como as que podem aparecer ao longo da sua vida. O leite humano não beneficia apenas o bebé prematuro nos seus primeiros meses, mas tem um efeito que se prolonga ao longo da sua vida, com o conseguinte benefício e poupança económica.

O estudo centra-se, em concreto, na enterocolite necrosante (NEC), a patologia digestiva mais frequente e grave no período neonatal, na infeção bacteriana ou sepsis, na Síndrome de Morte Súbita do bebé (SIDS na sigla em inglês), na leucemia infantil e nas doenças crónicas e infeciosas, como a otite média e a obesidade. Além disso, compara o custo atual de tratamentos para este tipo de doenças nas crianças prematuras com a poupança que se conseguiria ao proporcionar leite materno, já que diminui a incidência de muitas delas, e analisa como as mortes neonatais afetam o nível de produtividade, uma vez que, indiretamente, a morte de uma criança supõe uma perda de benefícios importante para qualquer sociedade.

A enterocolite necrosante e a sepsis, principais doenças que afetam o bebé prematuro
As duas doenças com maior incidência nos bebés nascidos pré-termo internados na UCIN são a enterocolite necrosante e a sepsis, patologias que, pela sua virulência, requerem tratamento médico imediato, internamento prolongado no hospital e, no caso da NEC, inclusive cirurgia. Além disso, são também as patologias mais relevantes para o hospital em termos de despesa.

No caso da enterocolite, com uma incidência nos prematuros de 2,6%, o custo para o hospital, estimado pelo YHEC, superaria os 19.000 euros por cada caso, sendo que, quando o bebé requer internamento muito prolongado no hospital (uma média de 27,2 dias), há que somar quase 2.000 euros se for necessário realizar cirurgia. No caso da sepsis, com uma incidência de 16% e exigência de internamento hospitalar médio de 5,9 dias, o custo estimado no estudo ultrapassaria os 4.200 euros . No entanto, estes custos poderiam ser significativamente reduzidos se o bebé pré-termo fosse alimentado com leite humano, já que este diminui o risco de NEC e sepsis em cerca de 86% e 12%, respetivamente, em comparação com o leite de fórmula . O estudo conclui, concretamente, que ao alimentar os bebés com leite materno em vez do de fórmula e reduzir as taxas de NEC e sepsis, a poupança média por cada caso poderia chegar aos 613 euros .

Custo de outras doenças que só aparecem após a alta hospitalar
A incidência de doenças que apenas podem aparecer depois do bebé prematuro ter alta hospitalar diminui notavelmente se o bebé tiver sido alimentado com leite materno. Mais especificamente, as principais doenças associadas podem ser a leucemia, SIDS, otite média e obesidade, sendo que a redução do risco se situa em 8,6%, 60%, 60% e 21%, respetivamente. Como tal, além da poupança de custos que a alimentação exclusiva com leite materno supõe, a menor incidência de doenças implica um benefício para o serviço de saúde e a sociedade que se prolonga no tempo.

O cancro mais comum nas crianças é a leucemia linfoblástica aguda infantil, apesar de a sua incidência ser muito baixa, situando-se na ordem dos 0,04%. Ainda assim, se os bebés fossem alimentados exclusivamente com leite materno a sua incidência poderia ser reduzida em cerca de 8.6% . Uma vez que a leucemia tem custos elevados, estimados em mais de 130.000 euros , devido à hospitalização, a poupança económica que se poderia gerar ao proporcionar leite humano a estas crianças seria muito considerável.

A alimentação exclusiva com leite materno também demonstrou ser benéfica para proteger face à obesidade infantil que tem uma vinculação com a obesidade na idade adulta . Poderia reduzir-se a sua incidência em cerca de 60%. Entre as doenças associadas à obesidade na idade adulta destaque para a diabetes tipo 2 e doenças coronárias, patologias que poderiam diminuir se o bebé tivesse sido alimentado com leite materno. Tendo por base as conclusões do estudo promovido pela Medela e realizado pelo YEHC, a poupança derivada dessa menor incidência da diabetes tipo 2 na idade adulta situar-se-ia em mais de 18.000€ , sendo que, no caso das doenças coronárias, seria de mais de 2.200€ .

Como promover a alimentação com leite humano em bebés pré-termo
O estudo, além de detalhar o benefício económico que o leite humano supõe, contribui com uma série de medidas dirigidas a fomentar esta prática na sociedade, tanto ao nível hospitalar como governamental:

- Proporcionar apoio adequado quanto ao aleitamento nas UCIN às mães de crianças pré-termo, incluindo acesso a equipamento, um espaço adaptado para amamentar e outras comodidades.

- Educar as famílias de crianças prematuras quanto aos benefícios do leite humano para que possam escolher de forma informada sobre como querem alimentá-la.

- Promover a alimentação com leite humano devido aos benefícios que aporta para a saúde.

- Criar grupos de apoio para pais.

- Implantar políticas nas UCIN que ofereçam facilidades às mães para aceder à criança durante 24 horas, todos os dias da semana, promovendo o contacto pele com pele e o aleitamento materno sempre que seja possível.

- Proporcionar diagnósticos interdisciplinares e guias de aleitamento materno às mães, e assegurar que toda a equipa envolvida com o cuidado à criança tem conhecimentos básicos de formação sobre lactação com o objetivo de veicular informação fidedigna à família.

- Desenvolver as melhores práticas standard, baseadas em evidências, para lidar de forma efetiva e higiénica com a obtenção, recolha, etiquetagem, armazenamento e alimentação do leite humano.

- Promover licenças de maternidade de duração suficiente para as mães de crianças pré-termo com o objetivo de que possam amamentar ou, pelo menos, proporcionar-lhes um espaço para poderem dar de mamar no local de trabalho.

- Promover entre os seguros privados o apoio, educação e incentivos às mães que deêm leite humana aos seus filhos.

- Criar e implementar uma legislação, a nível nacional, para abrir e financiar os bancos de leite com o objetivo de assegurar a alimentação exclusiva com leite materno, mesmo quando a mãe não possa proporcionar ela própria leite suficiente ao seu filho.

- Promover e valorizar o donativo de leite materno aos bancos de leite, de forma similar ao donativo de sangue, para beneficiar a sociedade no seu conjunto.