A análise, de acordo com o que foi agora publicado na revista Journal of Communication Disorders, encontrou uma associação entre a amamentação e a probabilidade de uma criança recuperar da gaguez, assinalando que as crianças que foram amamentadas mais tempo apresentavam uma probabilidade mais elevada de recuperação.

 

Os rapazes, que são desproporcionalmente afetados pela gaguez, pareceram beneficiar mais. Os rapazes do estudo que foram amamentados durante mais de um ano apresentaram uma probabilidade de um em seis de desenvolverem uma gaguez persistente quando comparados com os rapazes que nunca foram amamentados.

 

As investigadoras da Universidade do Illinois, Nicoline Ambrose e Jamie Mahurin-Smith, não encontraram nenhuma evidência de que os rendimentos ou a escolaridade materna tiveram qualquer influência sobre a gaguez na amostra.

 

As especialistas questionaram as mães sobre a vontade e a capacidade de amamentar os filhos, e também não encontraram nenhuma evidência de algum problema neurológico subjacente que poderia ter inibido a capacidade das crianças para serem amamentadas e de falarem fluentemente mais tarde na vida.

 

«Sabemos há anos que os fatores genéticos e ambientais contribuem para a gaguez, mas a nossa compreensão das variáveis ambientais específicas em jogo sempre foi obscura», disse Jamie Mahurin-Smith. «Estas descobertas podem melhorar a nossa compreensão da gaguez persistente e da sua recuperação.»

 

Diversos estudos anteriores tinham encontrado «uma associação consistente entre a amamentação e um melhor desenvolvimento da linguagem», relatam as investigadoras. Um estudo de 1997 descobriu que bebés amamentados por mais de nove meses apresentaram um risco significativamente menor de comprometimento da linguagem do que aqueles amamentados por períodos de tempo mais curtos.

 

Um outro estudo descobriu mais tarde que as crianças amamentadas eram mais propensas a produzir «balbucios variados em idades mais precoces», um marcador-chave do desenvolvimento da linguagem saudável.

 

Outros estudos encontraram associações entre a duração da amamentação e QI verbal ou a probabilidade de uma criança ser diagnosticado com um transtorno do espectro do autismo.

O PAPEL DOS ÁCIDOS GORDOS

Nicoline Ambrose e Jamie Mahurin-Smith sugerem que os ácidos gordos essenciais encontrados no leite materno, mas muitas vezes em falta nas fórmulas para lactentes, pode ajudar a explicar por que a longa duração da amamentação está associada a um melhor desenvolvimento do cérebro e da linguagem.

 

«Os ácidos gordos de cadeia longa encontrados no leite humano, especificamente o ácido araquidónico e o ácido docosahexaenóico (DHA), desempenham um papel importante no desenvolvimento do tecido nervoso», disse Jamie Mahurin-Smith. «O discurso fluente requer uma sequência extremamente complexa de eventos que se desenrolam rapidamente, e nossa hipótese era de que as primeiras diferenças no desenvolvimento nervoso podem causar dificuldades com fluência mais tarde na vida.»

 

O cérebro infantil triplica de tamanho no primeiro ano de vida e «mais de metade do peso sólido do tecido recém-construído será lipídico», escreveram as investigadoras.

 

O DHA é o ácido gordo predominante no cérebro de mamíferos e apesar das crianças com falta de DHA na dieta conseguirem sintetiza-lo a partir de outros ácidos gordos, «a investigação mostra que a taxa a que o DHA é incorporado no tecido do cérebro ultrapassa a taxa à qual ele pode ser sintetizado.»

 

«O nosso estudo adiciona à evidência que sugere que o leite humano pode exercer uma influência significativa sobre o desenvolvimento nervoso», disse Jamie Mahurin-Smith. «Embora não seja uma fórmula mágica, pode fazer uma diferença importante para as crianças, até mesmo anos após o desmame.»

 

 

Maria João Pratt

 

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