Não me entendam mal: tive uma infância deliciosa, tive carinho e atenção, ouvi “não” muitas vezes, cresci de forma saudável. Mas faltou sempre qualquer coisa - um irmão. Lembro-me de ter uns 5 ou 6 anos e, à pergunta da minha mãe “o que é que gostavas de receber no Natal?”, responder “um irmão, rapaz e mais velho que eu”. Esquisita, ainda por cima. Os meus pais foram adiando a decisão e, porque nunca era a altura ideal, o dito irmão nunca veio.

O facto de ter passado tanto sozinha acabou por trazer vantagens: aprendi a gostar de ler, a minha maior companhia passou a ser o stock de livros que havia lá por casa; acabei a ler “coisas para adultos” um bocado fora de época (por exemplo, “A Insustentável Leveza do Ser”, de Milan Kundera, com 13 anos). Apesar disto, nunca deixei de sentir a falta daquele irmão que nunca tive, sempre tive imensa curiosidade em saber o que era aquela coisa do amor fraterno e ainda hoje não descobri.

Por isso, sempre foi muito claro para mim que, a ter filhos, nunca poderia ter apenas um (a não ser, obviamente, que a natureza se encarregasse de me dar apenas um filho). Os meus filhos têm 3 anos de diferença. Se, ao princípio, o bebé era uma espécie de Nenuco em ponto grande (e de acesso restrito, ainda por cima), à medida que ele começou a crescer, ela passou a vê-lo cada vez mais como o companheiro ideal. Adoram-se. Andam sempre em cima um do outro. Brincam juntos. Às vezes brigam. Ele imita tudo o que ela faz. Ela puxa imenso por ele. Ele diz coisas um bocadinho fora do comum porque tenta acompanhar a irmã em tudo e até vai conseguindo. São amigos, companheiros inseparáveis. E é através deles que vou aprendendo o que é o tal amor fraterno. Quero acreditar que, por muito que venham a ter opiniões contraditórias e feitios completamente opostos, hão-de ser sempre amigos. Acho que vão ser aqueles irmãos super protectores, com ela a controlar-lhe os disparates na escola e ele a controlar-lhe os namorados. E tenho a certeza de que eles foram o melhor presente que lhes poderíamos ter dado.

 

Lénia Rufino

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