"A televisão é mutável, precisamos de reagir a determinadas coisas. Nós, na TVI, decidimos que é preciso mudar alguma coisa. Para mim, o Santiago Lagoá não sai da TVI". Estas foram as palavras de Cristina Ferreira a 18 de janeiro deste ano, proferidas num canal que até hoje, cerca de nove meses depois, não voltou a abrir portas ao comunicador que seria uma das grandes promessas da estação.

Desde então, Santiago deixou de ser uma presença regular na 'caixa mágica', mas, de quando em vez, quando é convidado por algum canal a fazer uma curta presença, nunca recusa, acabando por fazer renascer os rumores de que é nessa mesma estação que voltará a trabalhar.

Ainda assim, como confidenciou numa sincera entrevista ao Fama ao Minuto, Santiago Lagoá não tem prometido um regresso à televisão, não tem nenhuma proposta em mãos, nem nenhum segredo por revelar. Tem, somente, o sonho de voltar a poder fazer o que mais gosta e de assim matar as saudades de tantos e tantos fãs que anseiam por voltar a vê-lo trabalhar.

Como tem andando, como têm sido estes primeiros meses fora da televisão, um ambiente que lhe era familiar?

Meses diferentes, uma vida completamente diferente. Têm sido meses de adaptação porque, de um dia para o outro, deixei de lá estar. Tive de me readaptar. Felizmente já tinha iniciado os meus negócios, portanto tive de fazer a transição da área da televisão para me focar nesses mesmos negócios.

Mas refere-se a uma função de gestão, com uma empresa própria?

Não é nada glamoroso. Faço a gestão de várias lojas, é um trabalho de escritório. Não existe um contacto com um público, como estava habituado. Era algo que já fazia, mas agora tenho mais tempo.

Acredito que vá sentindo algumas saudades da televisão. Como tem lidado com esse sentimento? Tem aproveitado para descansar?

Descansar não, que não preciso [entre risos]. Tenho criado um certo desapego, não posso estar sempre a pensar no que já passou, mas tenho, sim, de olhar para a frente. Tenho de me focar no que estou a fazer, tendo a consciência de que há coisas que não dependem de mim. No dia em que aparecer um bom projeto, uma boa oportunidade, perfeito. Até lá, não posso perder tempo a pensar.

Já surgiram alguns convites, mas não eram os certos nem eram suficientemente aliciantes

Deixou a televisão em janeiro mas cada vez que faz uma participação num programa é criado todo um mediatismo. O facto de não ter voltado em definitivo deve-se a falta de oportunidades, porque a oportunidade que surgiu não agradou ou porque lhe prometeram algo que está à espera que se realize?

Não, não tenho promessas de nenhum canal. Não acredito que as coisas funcionem assim. Posso dizer que já surgiram alguns convites, mas não eram os certos nem eram suficientemente aliciantes. Não acredito que fossem um seguimento do que foi a minha carreira até agora. Acho que temos de ter consciência das decisões que tomamos. Não adianta estar na televisão só para aparecer.

É sempre engraçado quando apareço em televisão, porque se cria, de facto, um mediatismo e até eu fico surpreendido com esse burburinho. Acho piada. Ainda há pouco tempo estive no 'Casa Feliz', da SIC, e foi muito prazeroso, é giro perceber que ainda sei como as coisas funcionam, quais são os 'timings'...

Há pessoas que acham que estou a guardar um grande segredo, mas não. Apenas estou à espera que apareça o projeto certo.

Recuando um pouco até ao momento da saída da TVI... Imensas pessoas percebiam que era uma figura muito acarinhada, mas acho que outras tantas se surpreenderam com a onda de apoio que foi criada à sua volta. Também foi o seu caso?

Eu sabia que havia muito carinho por mim, mas não nesta magnitude. Sinceramente achei: 'olha, vou sair da televisão, fui despedido e vão falar sobre isto dois ou três dias e depois esquecem-se'. Nunca pensei que tomasse as proporções que tomou, que fosse receber tanto afeto de todo um país. Ainda hoje sou abordado e fico sem saber o que responder. As pessoas dizem que não percebem, que foi injusto e que têm pena. Quer dizer que fiz alguma coisa bem feita [risos].

Podemos embelezar como quisermos mas, para mim, fui despedido

Acabou de dizer a frase 'fui despedido', embora essa não tenha sido a versão oficial da TVI. É realmente isto que sente, que foi despedido?

O que a TVI disse, até hoje estou à espera de compreender. Efetivamente, podem chamar-lhe o que quiserem, que foi um 'obrigado, mas já não precisamos de ti', mas quando estás num canal há oito anos e, de um dia para o outro, depois de teres cumprido sempre o teu dever de forma profissional, reunindo o carinho do público, te ligam a dizer 'obrigado por tudo mas já não contamos contigo, és livre para procurares o que quiseres, onde quiseres', para mim, isso é um despedimento. Podemos embelezar como quisermos mas, para mim, fui despedido.

É normal que os canais, quando confrontados com condições mais adversas, tentem limpar um bocadinho essa imagem. Não posso falar por eles, nem sei qual foi a motivação, mas para mim não fez sentido e acho que não fez para ninguém.

Como recebeu essa chamada com a informação de que não iria fazer mais parte do canal? Sentiu mais raiva, mais tristeza ou um misto de ambos?

Como não estava à espera da notícia, nem a percebi muito bem. Fui fazer as coisas que tinha para fazer, a minha vida normal. Depois pensei: 'agora, que isto aconteceu, como vou gerir?', Os primeiros tempos foram para gerir as responsabilidades e os restantes compromissos. Só tive consciência da realidade depois, foi aí que pensei nas outras coisas que poderia fazer.

O que mexeu comigo foi a reação das pessoas, nessa parte não consegui ser racional, foi isso que me fez sentir que todos os anos de trabalho valeram a pena. Tenho uma sensação de gratidão imensa.

Não tenho qualquer sentimento de mágoa nem revolta

Que motivações acredita que existiram para justificar esse afastamento?

Não sou eu que tenho de o justificar e acho que até hoje não foi justificado. Se havia motivos para o despedimento? Acredito que não. Se existiram, não os consigo encontrar. Sempre que fui chamado a ajudar, eu estava lá. Portanto, há certamente aqui razões que desconheço. Quando souberem quais foram, digam-me. Também gostava de saber.

A primeira vez que se pronunciou sobre tudo isto foi na SIC. Logo na altura, falou-se de um eventual interesse deste canal na sua contratação. Por que motivo decidiu dar uma entrevista à SIC para contar o que aconteceu?

Em primeiro lugar, porque foi a SIC que me convidou. Da mesma forma que aceitei o convite do Fama ao Minuto. Nós vamos onde somos convidados. Não faria sentido falar do meu afastamento da TVI, na TVI.

Mas houve esse convite?

Não, não houve [risos]. É engraçado que já passaram nove meses e ainda se fala disto. Sempre que falam comigo, as pessoas querem saber de tudo isto. É algo para o qual não tenho explicação, até porque não sou eu que puxo o assunto.

Já passaram nove meses. Qual é o sentimento que tem neste momento em relação a tudo isto e em relação ao canal?

Não tenho qualquer sentimento de mágoa nem de revolta. Na altura, fiquei sem perceber e fiquei com a vida virada ao contrário. Não posso confundir o que foi uma decisão de algumas pessoas ou de uma pessoa só com um canal inteiro, onde fui muito feliz, onde tive oportunidade de crescer. Desejo o melhor para a TVI e não podemos confundir a parte com um todo.

Se calhar há pessoas que pensam que eu quero que a TVI agora perca tudo, mas não é isso que quero. O que quero é ter a sorte e a possibilidade de voltar a fazer o meu caminho. Espero que a TVI faça o dela e que tenha o resultado do que estão a dar às pessoas.

Não tenho ansiedade, nem amargura. Apenas a vontade de regressar e de vencer

Portanto, confirma o desejo de voltar à televisão. Qual seria o projeto que aceitaria sem pensar duas vezes?

Não sei responder, não está nas minhas mãos. Tem de ser alguém, na direção de algum canal, que tenha projetos em que acreditem em mim. Só com ele nas mãos poderei analisar, tem de ser bom para todos. Tem de ser um projeto onde se queira ganhar, com ambição e para liderar. Se for para ganhar, eu estou lá.

E podemos esperar vê-lo em breve na televisão?

Não podem esperar isso, porque não depende de mim. Não posso ser mais direto que isto.

Neste momento, consegue sentir-se realizado?

Estou sereno, tranquilo, mas quero muito voltar à televisão. É muito difícil trabalhar, formares-te, ter resultados, ser reconhecido pelos pares e pelo público e, sem aparente justificação, de um dia para o outro, ficar sem trabalho e afastado daquilo por que lutaste. É difícil, mas faz parte da minha vontade regressar. Não tenho ansiedade, nem amargura. Apenas a vontade de regressar e de vencer.

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