Muito antes de Charlie Hebdo ou da recente polémica com Rui Sinel de Cordes, já os limites do humor eram debatidos em Portugal. Numa publicação no Facebook, Nuno Markl recordou um episódio que ainda estará na memória de muitos portugueses.

Em 1996, o humor de Herman José já se destacava na televisão quando um sketch sobre ‘A Última Ceia’ deu lugar à polémica. Herman preparava-se para satirizar uma cena bíblica e ainda antes de o programa ter ido para o ar já havia queixas, em particular da Igreja Católica.

O vídeo que aqui publicamos foi ontem publicado no YouTube e tem estado a circular nas redes sociais. A razão? A opinião de Marcelo Rebelo de Sousa, que lidera as sondagens para as presidenciais que se realizam no próximo domingo.

O sketch acabou por ir para o ar apesar das queixas da Igreja Católica e não só. Marcelo Rebelo de Sousa, na altura líder do PSD, afirma em entrevista à RTP, que via “com preocupação que um canal de serviço público se encontrem mensagens que podem ser consideradas ofensivas de valores partilhados pela maioria dos portugueses e também ofensivas de instituições particularmente relevantes como a Igreja Católica”.

O caso chegou até à Procuradoria-geral e Herman José comentou na altura a “enxurrada de reações”, dizendo sobre Marcelo que “se for primeiro-ministro, vamos ter uma RTP bastante mais contida”.

Nuno Markl, adianta hoje no Facebook, foi coautor do sketch elaborado pelas Produções Fictícias, e diz lembrar-se “do cuidado com que todos trabalhámos a coisa”, salientando que o alvo da sátira nunca foi Jesus Cristo.

“Sempre quis acreditar que Jesus Cristo teria sentido de humor. Rever aqui um candidato a próximo Presidente da República a passar ao lado dessa ideia e a ver um mal medieval onde ele nunca existiu, eis uma das várias razões porque vou votar noutro candidato. Não é vingança, é preocupação”, escreve Markl no Facebook.

Entre os seguidores do radialista e comediante surgem algumas críticas pelo timing da publicação (já que esta sexta-feira é o último dia de campanha das presidenciais). Nuno Markl tem respondido diretamente a várias destas críticas. “Não tenho partido mas sempre tive as minhas ideias bem definidas”, justifica num dos comentários que assina.