Como é que se sente, Hugo? Cheio de força?
Estou cheio de força, mas em dose moderada, razoável, controlada. O que me aconteceu foi de tal modo grave, que me fez ver as coisas de outra perspetiva e estou com muita vontade de me dedicar a novos caminhos.

De que novos caminhos está a falar? Pensa sair da sua área?
Tenho-me dedicado muito à escrita. Gostava de publicar um livro sobre o que me aconteceu e gostava que ele saísse enquanto o assunto ainda está “quente”, porque atingirá um público-alvo muito maior. Não é sobre o salto do segundo andar, porque para isso falaria sobre os saltos de paraquedismo que já tinha dado antes… É mais sobre a minha experiência pessoal porque acho que pode ajudar pessoas que estejam a passar pelo mesmo.

Então está a mesmo a pensar deixar a área artística?
Não completamente. Quero dedicar-me à direção e encenação de atores e voltar a dar aulas, que é uma das minhas grandes paixões. Tenho muita fé de que em breve estarei a trabalhar na SIC. Não gosto de falar das coisas enquanto elas ainda são informais, mas posso dizer que existe fumo no ar e bons indicadores do meu regresso. Sinto-me finalmente apto a regressar. Apanhei um grande susto e só agora é que me sinto igual ao que era antes.
 
O Hugo saltou conscientemente da janela? Estava lúcido quando o fez?
Eu sou psicótico e isso não é uma coisa que se controle. De repente tive medo de algo dentro da minha casa, estava cheio de fome porque não tinha comido nada durante todo esse dia e estava a atravessar um grande desgaste emocional já há duas semanas. Houve algo, um barulho ou qualquer outra coisa que me assustou, e eu, que sempre fiz ginástica acrobática e salto muito bem, porque senão ter-me-ia escaqueirado todo, saltei como um autêntico macaquinho. O que eu fiz foi uma fuga, uma fuga feita, porque eu saltei e aterrei em segurança.

E o que se passou a seguir?
Quando cheguei ao chão tive um estouro de adrenalina, porque foi um salto de 5,5 metros e não percebi o que tinha acontecido. Por isso chamei a polícia no sentido de me ajudarem a perceber o que estava a acontecer. Pode dizer-se que “crashei”, o meu sistema “crashou”.
 
Depois foi internado…
Sim, era inevitável. Tive um tratamento psiquiátrico de 45 dias, completamente isolado, com 26 comprimidos diários. Funciona como uma espécie de ausência de nós próprios. Aos poucos vão-nos baixando a medicação e vendo se temos os ponteiros no sítio. Agora parece que finalmente tenho os ponteiros alinhados, relógio certo, mas para já, vivo no rés-do-chão (risos).

Durante todo este tempo o Hugo tem referido sempre o seu filho, Xavier, como a sua prioridade. Já esteve com ele?
Ainda não estive com o Xavier, mas já falei com ele. Só não estive com ele porque não concordo com as condições que me foram impostas para poder vê-lo. Estou a tratar de tudo com a Justiça, que em Portugal é muito lenta, mas estou a desenvolver e a seguir todos os mecanismos legais.

Como sejam…
Neste momento só me falta uma entrevista na Segurança Social para poder ter o meu filho de volta. Mas como os Serviços Sociais da minha zona mudaram de instalações só daqui a mais ou menos uma semana é que vou poder fazê-la. Em Portugal, infelizmente, as coisas para passarem de um gabinete para outro levam uma eternidade e quando já se está há três meses e meio sem ver um filho isso custa muito, são períodos demasiado longos.

Que condições é que lhe foram impostas para poder estar com o seu filho?
Teria de ser acompanhado por alguém da polícia ou da Segurança Social nos primeiros encontros com o Xavier, pois não poderia estar sozinho com ele. Fui avisado de que era possível que a mãe impusesse esse tipo de condição e eu não quis correr o risco. Não tive qualquer contacto com ela (Dina Félix da Costa), mas estou a preparar as coisas de forma a que o meu filho me seja entregue totalmente.
 
Acha que esta separação pode alterar a sua relação com o seu filho?
A minha relação com o Xavier é inquebrável, não é por estarmos agora separados que ela vai mudar, tenho é muitas saudades dele.

Queixou-se que a Dina Félix da Costa (mãe do Xavier) não lhe atendia o telefone. Já conseguiu falar com ela?
Não falo com a Dina como duas pessoas normais falam desde que nós nos separámos. Esse tem sido, aliás, um dos problemas da nossa questão com o nosso filho. É a falta de contacto verbal e o não conseguirmos ter um acordo mínimo de ideias em relação a ele.
 
E a sua hospitalização também não ajudou, certamente…
É óbvio que quem manda um tombo, e foi mesmo um tombo neste caso, como eu mandei é hospitalizado e durante esse período foram desenvolvidos vários mecanismos legais em relação ao Xavier que só depois de ter alta hospitalar pude começar a resolver e a tentar contornar. É exatamente isso que estou a fazer e, embora me custe imenso não estar com o meu filho, isso tem um objetivo maior que estou a tentar alcançar.

Ultimamente, o Hugo gerou muita polémica com os seus pedidos de ajuda financeira através do Facebook…
Gostava de esclarecer que não tenho nada a ver com as páginas que foram criadas no Facebook. Foram criadas à minha revelia. Tudo o que me aconteceu gerou uma onda de misericórdia, do tipo “vamos ajudar o Hugo Sequeira”, abriram-se páginas no Facebook onde se pedia ajuda monetária, mas eu não tive nada a ver com isso, nem tenho. Adorava que tivesse “chovido” imenso dinheiro nessas contas e que me tivesse chegado ao bolso, mas infelizmente não é esse o caso. E assim como um acontecimento como o meu, “um tipo atirar-se do segundo andar”, deu para a imprensa escrever as maiores barbaridades e as coisas mais acertadas, também deu para as pessoas terem manifestações de solidariedade como a criação das páginas no Facebook. É um fenómeno social e humano ao qual sou completamente alheio.

Mas confirma ou desmente que está a passar por dificuldades financeiras?
Eu não sou nenhum desgraçadinho e não ando a passar fome. Estou a lutar pela custódia do meu filho e acho que é fácil discernir no Facebook o que é ou não escrito por mim.

Também se falou muito na imprensa de um corte de relações do Hugo com os seus pais. Isso é verdade?
Não há relação com os meus pais. Há relação com a minha mãe, que será sempre a minha mãe e será sempre a melhor mãe do mundo. Não tenho qualquer tipo de relação com o meu pai. Na verdade, não consigo ver ao longo da minha vida qualquer relação com o meu pai. O meu verdadeiro pai já morreu há mais de trinta anos – era o meu avô materno. Em relação ao meu pai biológico, terão de lhe perguntar como é que ele está porque já não o vejo há muitos anos.

Essa relação inexistente com o seu pai inibe a sua relação com sua mãe?
Não, nada disso, de forma alguma. Volto a dizer: a minha mãe é a melhor mãe do mundo!