Uma fotografia manipulada da família de Kate, princesa de Gales, divulgada pela casa real, causou polémica no Reino Unido e demonstrou a dificuldade da monarquia em controlar a sua própria narrativa, na era das redes sociais.

Esta foto de família foi, segundo a realeza, tirada pelo príncipe William e tinha como objetivo acalmar as especulações sobre a saúde de Kate, quase dois meses depois da princesa de Gales ter passado por uma cirurgia abdominal, devido a uma condição não especificada.

No entanto, a descoberta de múltiplas edições na imagem, levou à retirada por cinco das maiores agências de imprensa que a publicaram e a um pedido de desculpas categórico de Kate, que assumiu a responsabilidade.

A princesa de Gales explicou que "como muitos fotógrafos amadores" também faz "experiências com edição".

"As redes sociais capacitaram a realeza a cuidar da sua imagem pública de novas formas", realçou esta terça-feira o historiador real Ed Owens.

"Mas também deram um poder significativo ao utilizador final. E esse utilizador final... deseja maior visão, maiores detalhes íntimos sobre o que exatamente está a acontecer dentro de portas", acrescentou, citado pela agência Associated Press (AP).

Esta 'jogada' do Palácio de Kensington é um "desastre de relações públicas", resumiu o Daily Mail na sua primeira página esta terça-feira.

A imprensa britânica até foi bastante compreensiva com Kate e William, casal estrela da monarquia: "Deixem Kate em paz", lançou o tabloide The Sun, denunciando uma "campanha de assédio".

Mas a confiança nas informações divulgadas pelo Palácio de Kensington parecem agora ter sido minadas, noticiou a agência France-Presse (AFP).

"No contexto atual, qualquer manipulação de uma imagem, mesmo que pequena e sem intenção de enganar, pode levantar suspeitas", alertou Chris Morris, diretor do 'site' de verificação de 'fake news' Full Fact.

A manipulação de retratos reais não é uma situação completamente nova. No século passado, o fotógrafo oficial de Windsor, Cecil Beaton, costumava fazer ajustes para obter a fotografia perfeita, recorda o biógrafo real Hugo Vickers, no Telegraph.

A família real sempre conseguiu exercer controlo sobre a imprensa nacional, como na década de 1930, quando o romance entre o rei Eduardo VIII e a norte-americana Wallis Simpson, duas vezes divorciada, foi manchete nos EUA, mas mal foi mencionado no Reino Unido, até que o rei abdicou para se casar com a mulher que amava, noticiou ainda a AP.

Mais recentemente, o retrato de Natal da família de Gales de 2023, ou uma fotografia da rainha Isabel II e do seu marido, príncipe Filipe, em 2020, exibiu certas inconsistências, como um dedo em falta ou uma perna extra, sem gerar tanta controvérsia.

A polémica reabriu dúvidas sobre a recuperação da princesa, especialmente porque o Palácio de Kensington se recusou a publicar a foto original, e até sobre a solidez da sua relação com William.

Segundo Peter Hunt, antigo correspondente real da BBC, "as pessoas vão agora questionar se são confiáveis, na próxima vez que foram divulgadas informações sobre a saúde" dos Windsors, numa altura em que o rei Carlos III sofre de cancro.

Uma nova foto tirada por dois fotógrafos reais na tarde de segunda-feira mostrou a princesa num carro ao lado do príncipe William, mas a desconfiança dos britânicos não diminuiu.